Quando Deus quer Esperança
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Há momentos na vida em que, sem perceber, não enxergamos mais. Talvez nem seja de propósito, talvez nem seja por maldade. Apenas uma falta de costume que nasce nessa preguiça de se importar com o outro e, de repente, vira um cacoete nocivo da humanidade.
Não pensamos mais em como o alimento veio parar em nossa mesa farta, para que a fome não nos ameaçasse feito um fantasma. Não queremos nem saber quem são os braços incansáveis que cultivam a terra, que alimentam o gado, que cuidam diuturnamente da criação.
De repente, não enxergamos mais os horizontes onde o encontro entre o azul e o verde é mais intenso. De repente, não damos mais importância ao nosso povo do campo.
Então, quando os homens esquecem de si, Deus arranja seus jeitos de nos lembrar quem somos.
A fúria insana dos ventos. A mensagem muitas vezes incompreensível na natureza.
Por que logo aqui? Por que logo com a gente?
Precisávamos dessa destruição? Dessas lágrimas?
Quando os homens esquecem valores, Deus tem seus jeitos de nos lembrar quem devemos ser.
Oito de junho. A noite de horrores jamais sairá dos pesadelos de quem sofreu a fúria da natureza. A noite onde inocentes talvez tenham pago o preço de outras culpas humanas.
Mas os dias vindouros jamais sairão dos corações daqueles que, como todos aqui, hoje olham com toda a atenção para este povo guerreiro. Os que se uniram numa corrente de amor e solidariedade. De ajuda. De reconstrução. De persistência e vontade.
Os dias depois de oito de junho serão, para sempre, dias de recuperação. Recuperação de casas atingidas, de plantações destruídas - e de nossas almas, até então tão distraídas. Dias para os homens lembrarem que podem ser ainda mais humanos. E, agora, os homens daqui, de lá, do mundo inteiro querem reerguer a localidade de Esperança, em Maratá, no Rio Grande do Sul. Querem-na ainda mais pujante que ontem.
Porque quando Deus quer Esperança, os homens se inundam de amor. E se unem.
