Rodrigo e Raquel
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Gravataí, manhã de sexta-feira. Movido por ideais, esse casal foi ao trabalho muito cedo disposto, junto com outros colegas de paixão e ofício, a terminar com mais um núcleo do crime organizado. Com mais uma célula de terror a ameaçar tantos anônimos que jamais conhecerão, mas cuja dor e medo conhecem bem e então decidem, por ser seu papel, sua opção cidadã, encerrar. Ele se chama Rodrigo Wilsen da Silveira nem chegou a casa dos quarenta anos. Desde 2012 na Polícia Civil como escrivão, sua competência o levou à chefia de investigação da 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí. Ela, Raquel, não está ao seu lado apenas como a policial que acompanha o chefe em uma missão, ou a mulher que está ao lado do amor de sua vida. Ela está ali como a grande parceira de um sonho bom e compartilhado. O de viver dias melhores nessa rotina insana de crimes, drogas e violências várias.
Enquanto os colegas nos colocam a par dos acontecimentos trágicos da manhã, vemos que Raquel não quer deixar o local da ocorrência, em estado de choque. Há quem tente adivinhar o que ela sente, mas a intensidade da dor é só sua. Só ela saberá para sempre o que viveu ali. A intensidade da sua perda dupla, tripla, múltipla. Talvez ela queira voltar no tempo e abraçar Rodrigo pela última vez. Talvez ela só queira entender o porquê, pois não é justo, nada justo, que tudo acabe assim. Rodrigo e Raquel, para sempre. E para eles. Para outros tantos, números efêmeros, indiferentes, discutíveis. Para eles, o que há de mais humano em nós: dois corações plenos, unidos por muito mais que podemos imaginar. Personagens reais dessa tragédia rotineira em que se transformaram nossos dias, dessa inversão desonesta de valores que nos arremessa, cotidianamente, às feras, sejamos policiais ou cidadãos comuns. Todos vítimas do absurdo. Todos ceifados no auge do seu melhor querer. A banalidade do mal, meus amigos, é tirana e impiedosa.