Saídão não tem que existir!

Saídão não tem que existir!

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Se o Brasil quiser mudar o curso desastroso de sua história, tem que levar suas próprias regras mais a sério. Embora o que se assista não passe de uma sucessão de piadas sem graça e propagandas enganosas eleitoreiras. Como a lei que deveria melhorar o panorama do enfrentamento às drogas no país e se tornou tão ridícula que, ao fim e ao cabo, incentiva o consumo, o tráfico e toda a violência que deles decorre. Mas garantiu reeleição presidencial. E segue a vida e o descontrole. Igual à lei Maria da Penha, que continua sem compromisso de gestores públicos. Basta ver que quase nenhuma cidade possui abrigos e, afora o registro policial, as mulheres seguem cada vez mais vítimas de violência, com quase nada de atenção no restante desse drama. E a lei do desarmamento, que armou bandidos? E por aí vai. Fiasco sobre fiasco. O festival de impunidades, tramoias e torpes justificativas, que outra vez permeia os altos escalões dos poderes tupiniquins, então, é de doer. Mas é a nossa cultural passividade que financia esse circo bizarro.

A Câmara dos Deputados, aquele bilionário reino que para existir e muito pouco fazer suga gigantesca fatia dos nossos impostos, aprovou projeto agora, no dia 9, que restringe o “saídão” de presos para visita familiar ou atividades externas. Na prática, pura demagogia. Nosso país só começará a ser sério e ter no crime algo que não vale a pena quando as punições forem inflexíveis. Não conversa para boi dormir e gracejo em boca de bandido. E é jogada midiática porque até reduz, mas continuará existindo. Não tem que ter saídão, tchê! Todos nós estamos cansados de saber o que criminosos, em sua grande maioria, fazem ao sair da cadeia. Todos nós estamos cansados de saber a bagunça que é o sistema prisional brasileiro, o confortável comando de quadrilhas lá de dentro das cadeias, dominando o tráfico, as execuções humanas e toda sorte de crime, recebendo cinco refeições diárias bancadas por nós, que mal temos o que comer, para tocar o horror. Então medida meia boca é nada! Não se resolve com meio gesto e boa intenção, se resolve é com ação, com mudança real, conhecimento de realidade e disposição para pagar o preço da seriedade. Saídão com regrinha ainda é saídão e fica tudo na mesma.

Mas é Brasil. Suzane Von Richtofen matou o seu pai e a sua mãe, Marísia Von Richtofen, com requintes de crueldade e a ajuda de dois comparsas. Motivo fútil. O país se assombrou com o crime. Pois ela ganhou saídão nos últimos dois anos justo no... Dia das Mães! A assassina da própria mãe saiu por bom comportamento. Uau. Ô Brasil. Depois reclamam que com o presidente fulano e senador beltrano é tudo um festival de lorotas, que mesmo quando as falcatruas se escancaram, no fim das contas não dá nada. Qual a surpresa? Brasil. Se és criminoso, tudo tem saída. E saídão.

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