Semana trágica

Semana trágica

Oscar Bessi

publicidade

Eu ainda não tinha visto a minha amiga e colega, a agora major Vanessa Wenitt, tão abalada. Fizemos o Curso Avançado de Administração Policial Militar juntos e, além da alegre proximidade por sermos, ambos, torcedores xavantes, eu sempre a admirei pela positividade, pela energia boa, pela iniciativa e disposição típica de quem tem uma liderança natural inabalável. Mas, no entardecer de quinta-feira, era a Vanessa apaixonada pela farda, pela missão e pela família que se emocionava. Ela recém saíra dos atos fúnebres do jovem soldado William Santos dos Santos, assassinado por um criminoso em Pelotas durante assalto, e me contava, sem conseguir conter as lágrimas, sobre a breve, mas ardorosa, trajetória do policial que nos deixou tão cedo. Foi pela voz embargada de Vanessa que soube da emoção e desespero do filho de 8 anos de Santos, um menino já apaixonado pela profissão do pai, e que gostava de esperá-lo com sua fardinha feita especialmente para ele. “Acorda pai, fica comigo, vem pra casa, tu era bom, não fazia mal para ninguém”, chorava a criança ao ver o corpo do pai, fardado, no caixão. Foi uma comoção geral.

Uma semana trágica, que começou com a execução sumária do comissário da Polícia Civil Fabiano Ribeiro, 51 anos. Ele tentou prender um criminoso que recém havia assassinado o cliente de um restaurante no centro de Jaboticaba, no Norte do RS. Uma execução impiedosa. Assim como a de William, em Pelotas, que estava de folga pensando em levar alimentos para a sua esposa e duas crianças, quando o assalto foi anunciado. Porém, o assassino, que já responde por outros homicídios e havia sido solto há uma semana, executou o jovem PM. Dois casos clássicos em que cidadãos escolhem oferecer a própria vida em defesa dos demais. Homens e mulheres comuns, mas que em troca de salários discretos prestam o juramento que William e Fabiano cumpriram à risca. E eu gostaria de saber se ainda há quem pense ser um “privilégio” contrariar a lógica da própria preservação e, enquanto todos apenas não se envolvem ou fogem, ser obrigado por dever e ética intervir sem pestanejar e acabar assim, morto.

Frustrante é saber que o sistema de persecução penal continua falho, não sendo o ideal. Criminosos, assassinos e estupradores são presos, mas em seguida são liberados por um canetaço que concede liberdade e condena outras vítimas aos seus crimes impiedosos. Temos filhos todos os dias ficando órfãos. Temos policiais tombando no cumprimento do seu dever. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895