Socorro insuficiente

Socorro insuficiente

Oscar Bessi

publicidade

Toda vez que acontece uma tragédia envolvendo nossos jovens, paramos para refletir e nos questionar a respeito de diversas questões de segurança. O caso da boate Kiss foi uma tragédia histórica e emblemática, que deveria ter ensinado muito e mudado comportamentos, por exemplo. Mas, segundo alguns profissionais que trabalham com shows e casas noturnas, infelizmente alguns promotores de eventos não se sentiram nem um pouco afetados pelo horror que ceifou tantas vidas. E seguem priorizando o lucro puro e inescrupuloso. Bom, quem procurar na Internet vai encontrar até vídeos de gente acendendo fogos em palcos e brincando com a situação. Um deboche macabro, horroroso. Vivêssemos num país sério, gente assim estaria proibida de fazer shows por um bom tempo. Vivêssemos num país sério, pelo menos as dores das vítimas e seus familiares seriam respeitadas e teríamos uma nova realidade. Mas não temos. E nem temos “perna” para fiscalizar tudo o que acontece. Nem interesse. Basta ver o desinteresse da maioria das prefeituras em ter uma equipe forte de fiscalização, como seria seu dever. Mais fácil ligar para o 190 e passar a bola, fingindo ter feito alguma coisa.

O caso dessa jovem estudante de veterinária que morreu após passar mal num show em Porto Alegre é mais um evento emblemático. Que, no mínimo, gera reflexões. Todos nós sabemos a logística pessoal que é ir a um show qualquer numa grande cidade do Brasil. Além do gasto público com segurança no entorno, trânsito etc, o cidadão tem que arcar, além dos ingressos muitas vezes caros demais, com uma operação de guerra, incluindo algum sacrifício financeiro a mais, para garantir que não terá consequências negativas só por ter saído de casa. Fora que, além de ladrões, traficantes adoram shows. Aproveitam a euforia do momento para lucrar com suas mortes a granel. É de quem promove o evento, e ganha com a venda de ingressos e os patrocínios, a responsabilidade de pensar na segurança de todos que estiverem no local. Neste caso, os relatos dão conta de um atendimento precário a uma mulher que passava mal. Claro, o inquérito policial é que vai nos contar se há alguma responsabilidade e de quem é. Mas será que o padrão protocolar para shows está correto? Será que está prevendo de fato a complexidade que é lidar com milhares de pessoas? Quantas ambulâncias são, de fato, necessárias? Quantas equipes?

Volto a tocar neste assunto e defender, aqui, que em qualquer evento, seja de que natureza for, as exigências legais para o quesito preservação da vida devem ser elevadas. Que gerem custo, que gerem despesa, não importa. A prioridade precisa ser a vida em qualquer lugar, em qualquer momento. Mesmo que estas vidas estejam em transe por causa de músicas ou de gols ou seja lá o que for, é um direito do ser humano se divertir, extravasar. Quando digo qualquer ser humano, incluo quem tiver algum problema de saúde, e levante a mão aquele que for 100% saudável, talvez meia dúzia dos presentes em shows. Também é cruel pedir que uma equipe reduzida de profissionais de saúde cuide de milhares com a atenção que é necessária, ainda mais em um ambiente onde alguns excessos são previsíveis. Enfim. Está bom do jeito que está? Pessoal da saúde concorda? Bom, se assim for, que o inquérito nos revele, então, o que de fato aconteceu em Porto Alegre.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895