Teorema furado sobre todos os lados

Teorema furado sobre todos os lados

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Perguntaram-me se não sou mais um sujeito de esquerda. Só porque meu pensamento não se atrela ou limita a este ou aquele partido. Perguntei o motivo do questionamento e a pessoa desviou o assunto, pigarreou, chegou num "ah, caso precise criticar de forma mais direta em tuas colunas". Criticar? Logo eu, que nem sou muito disso. Ora, ora. Até prefiro brincar, que brincando, se diz qualquer verdade. Só de uma forma mais leve e melhor para a saúde.

Direita ou esquerda são meras formas de tentar simplificar posições políticas. E posições e ações políticas nunca serão simples. Nós não somos simples. Nem eu, nem você, nem essa massa toda que chamamos de nosso povo. E, se determinada sigla hoje está à esquerda, amanhã sumiu daqui por conveniência. Creio  tanto na ideologia de alguns quanto na nota de três reais.

De mais a mais, a vida é maior, bem maior, que uma mera divisão dicotômica. A vida é composta é um caldeirão de fatos, atos, necessidades, sonhos, desesperos, objetivos, desejos. Sim, já fui candidato, e o partido que me indicou – não sou filiado, não posso ser – tem momentos de esquerda. Outros, de direita.

Mas afinal, o que é esquerda e direita, meu povo?

Estes termos vêm lá da Revolução Francesa, onde girondinos liberais e jacobinos centralizadores, entre outras diferenças de posições, resolveram organizar a bagunça do debate e sentar em lados diferentes no salão. Vocês à esquerda, vocês aqui no centro, vocês à direita. Aham, só isso. Os termos pegaram e a história e as culturas os popularizaram. E tem político que enche a boca para se dizer de lá ou de cá que nem sabe disso.

Jamais condeno siglas. Tenho bronca é com pessoas mesmo. Com sujeitos que usam partidos, instituições ou mandatos para levar vantagem. Para lograr o povo. Para matar dezenas, condenar infâncias e acelerar misérias apenas para satisfazer seus egos, ou seus bolsos. Se há um mau policial, não é por ser militar ou civil. É porque ele, e só ele, é safado mesmo. Não a polícia. Se há o mau político, não interessa a sigla. Interessa é a podridão das suas ações e seus reflexos nocivos à comunidade. E interessa mais ainda que não fiquemos calados. Há líderes religiosos heróis que salvam vidas planeta afora, enquanto outros, na história do mundo e das igrejas, usaram a fé para enganar, enriquecer e matar. E foram eles, não as suas igrejas. As pessoas.

Elas são más. Vale a alma, vale o objetivo.

Daí que creio na criatura tocando corações ainda em formação, transformando cidadãos do amanhã.

Já a afinidade do grupo e o que ele se propõe, o que pode aceitar como normal e o que não aceita de jeito nenhum, aí sim, isto pode fazer a diferença. Começarei a acreditar em partidos quando eles expulsarem seus corruptos.

Quais deles expulsam?

Então, que me desculpem os que resumem a vida em direita e esquerda, gremista e colorado (sou Xavante, mas colorado de segunda opção), cristão e ateu, rico e pobre. Talvez eu não aceite as suas rotulações e, de forma bem contraditória, seja mais simplista ainda, pois divido meu mundo entre bons e maus. E fim. Os que ajudam e os egoístas, os que salvam e os que matam. Entre os que posso chamar de amigo e os que só encaro como policial que sou.

É que vivo aqui, entre os que sorriem quando apanham. E também entre os que choram quando, vez ou outra, vencem.

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