Terrorismo e pornografia infantil

Terrorismo e pornografia infantil

Quem abastece esses doentes não são consumidores

Oscar Bessi

Seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Caxias do Sul e Nova Prata

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Esta semana, na Serra, mais uma daquelas operações policiais que, sinceramente, a gente não sabe se aplaude e vibra com o resultado da ação policial, pela rede criminosa desmantelada e os bandidos presos, ou se fica pensando sobre os resultados e se entristece ainda mais com a constatação de que essa monstruosa parcela da humanidade sempre se multiplica. A Operação Levana, noticiada pelo Correio do Povo esta semana, mostrou que um ano de investigação levou policiais federais a identificarem criminosos, de Caxias do Sul e de Nova Prata, que disponibilizavam imagens de pornografia envolvendo crianças e adolescentes aos seus clientes doentios. Os pedófilos da web.

Um estudo feito por integrantes da Polícia Federal mostrou a extensão desse mercado espúrio. E a complexidade. Não é fácil identificar e coletar provas contra esses monstros. Eles agem de forma bem diferente de organizações criminosas tradicionais, como o tráfico de drogas e armas, roubo de carros ou de cargas. As máfias, as facções e até mesmo os grandes esquemas de corrupção tem uma relação mapeável, uma cadeia de comando, com a liderança do esquema todo na ponta da pirâmide, com os maiores lucros, e uma rede de relações bem definidas, com hierarquias e funções. Já o mercado criminoso da pornografia infantil se comporta da mesma forma que o terrorismo mundial. Invisível e pulverizado. Quase nunca organizado. Mas muito extenso. Assombrosamente gigantesco.

Alguém vai argumentar que precisa haver lideranças em todos os crimes. Não, neste caso há consumidores. E são muitos. Mas quem abastece esses doentes não são consumidores. São produtores de pornografia envolvendo crianças e adolescentes, que se movimentam na “deep web”, igual aos terroristas que se alimentam do ódio, como fantasmas alimentando o vício monstruoso dos que pagam por isto. Não são usuários de pornografia infantil, são negociantes. Lucram com a bizarrice alheia. E com a dor dos pequenos. Pior ainda. Nem a desculpa esfarrapada de uma doença eles têm para alegar. 

As penas previstas para esses crimes ainda são ridículas. Crianças são abusadas, têm suas vidas anuladas e sofrem horrores para que o negócio deles, criminosos, aconteça. E como acontece. Chega a movimentar mais de 3 bilhões de dólares no mundo a cada ano. Fortunas pagas em nome da demência. O patrimônio desses criminosos, conquistado não com o próprio suor, mas com as lágrimas de inocentes, de anjos violados, deveria ser confiscado e revertido em prol dos tratamentos médicos e psicológicos que essas vítimas são submetidas. Ou para que a escola pública fosse melhor aparelhada. 

 


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