Todos procuram Alessandra

Todos procuram Alessandra

Oscar Bessi

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Há mais de dez dias, policiais, familiares e voluntários procuram por Alessandra Dellatorre. No dia 16 de julho, ela saiu para caminhar, conforme pode ser constatado por imagens captadas pelas câmeras da avenida Unisinos, em São Leopoldo, e não foi mais vista. As buscas, que já foram até mesmo realizadas pelo ar, prosseguem. Não há quem não esteja acompanhando com apreensão e esperança o desenrolar desse mistério. Todos queremos que ela reapareça viva, e bem. Todos nos unimos aos sentimentos otimistas e às orações da família e de amigos e torcemos para que o episódio não passe de um susto, de um incidente psicológico qualquer, algo tão comum nesses dias, nos quais  as coisas são aceleradas e implacáveis ao nosso redor e achamos  comum ver as pessoas não suportarem isso tudo e se renderem aos seus próprios limites, esgotadas. Ainda que o passar do tempo não seja nosso aliado e se avizinhem novos dias de chuva e frio, o que dificulta as buscas. O que aumenta sofrimentos.

Agora, triste é saber que uma das principais dificuldades da Polícia é lidar com uma enxurrada de denúncias falsas sobre Alessandra. É inadmissível, e chega a ser doentio, que seres humanos tenham a capacidade de se predispor a ligar para os números da Polícia por uma bizarra necessidade de fazer piada de mau gosto com o desespero alheio. Ou, talvez, por uma vontade determinada de atrapalhar o trabalho policial. Que isso também tem. Aliás, é o que mais tem. Entre desocupados e outro tanto de sujeitos muito bem ocupados, por sinal. Mas que não gostam de Polícia lá por suas razões. Há esses tipos, os que não gostam de regra, os que não gostam de ouvir um não, os que não gostam de saber que não são os donos do mundo e os que não gostam, simplesmente, de colaborar com ninguém, fazendo de tudo para deixar sempre pior o que já é complicado. Como digo sempre, seres humanos. Somos assim. Quando queremos, somos o pior dos animais do planeta.

Lembro do tempo em que os orelhões eram nossos portais de comunicação nas ruas. Não havia celular. Não havia essa rapidez e facilidade de nos comunicarmos com o mundo. E nós, jovens policiais, percorríamos as escolas conscientizando as crianças de que o trote era nocivo. Um problema, a cada saída ou entrada de colégio. A meninada se pendurava no orelhão, um pouco por falta do que fazer e outro tanto por falta de educação de berço, e ligava para os números de emergência, que eram gratuitos e não exigiam fichas. A gente ia lá e os pobrezinhos ficavam boquiabertos com o que podia acontecer se alguém, até da família deles, realmente precisasse e o 190 ou 193 estivesse ocupado por um trote irresponsável. Eles entendiam que era uma brincadeira sem graça. Mas ainda era só uma brincadeira. Hoje é o quê? Com tantas possibilidades de interação, como podemos chamar essa necessidade de produzir mentiras virtuais e atrapalhar um trabalho policial que visa, acima de tudo, salvar alguém? Enfim. Nós todos queremos ver a volta de Alessandra. E quem não se importar, por favor, vá procurar algo para fazer e não atrapalhe a Polícia. 


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