Torcida mista não briga
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Toco no assunto pelos debates sobre vídeos da tal briga na torcida mista do último Grenal, na Arena. Essa torcida é muito mais do que mero espaço geográfico num ambiente de rivalidade histórica e, acima de tudo, tão passional quanto um clássico futebolístico. É a amostra do que somos na essência – todos iguais com suas diferenças – e do que podemos ser. Das escolhas que temos quando estamos sozinhos ou em grupo. Um sujeito pacato, incapaz de ferir uma mosca, vira vândalo ou boxeador protegido pelo anonimato da multidão, ou instigado pelo calor da massa. Por opção. Ainda que não perceba, ele se permite ser violento. E a violência nos estádios precisa ser enfrentada para que ali seja local de multiplicação de algo que dê prazer, não que agrida. Terminar com a torcida mista por culpa da fraude e agressividade de alguns é jogar uma pá de cal na paz proposta, tão necessária. O espaço reservado para esta torcida até pode não gerar lucro. Mas gera ganhos imensuráveis à educação, à cultura e à cidadania. Quem gera prejuízo é a violência.
Após duas tragédias nos anos 80, com dezenas de mortos, e de ser banida por cinco anos de competições europeias, a Inglaterra colocou seus estádios entre os lugares mais seguros para se estar. O famoso “Relatório Taylor” e suas 75 sugestões de mudanças, em 1990, trouxeram controles, regras de comportamento, brigões banidos de estádios por muito tempo e cerca de 3,5 mil hooligans presos a cada ano. Ou seja, os britânicos descobriram que há escolhas melhores do que a baderna, opção primeira de alguns torcedores. Neste aspecto, acreditem, o Brasil também evolui. E o Rio Grande do Sul dá aula, da segurança à torcida mista. Prestem atenção no vídeo, não foi essa torcida que brigou. A união e a paz não geram agressão. Tomara que o olhar miúdo do lucro, ou a ação isolada desses poucos e maus torcedores, não façam retroceder uma conquista tão suada.