Trump e o burro falante

Trump e o burro falante

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Donald Trump não parece um estadista, mas um showman. Preocupa-se mais com índices de audiência do que com a sensatez dos seus pronunciamentos. A polêmica é o seu alimento predileto. A última pérola foi defender professores armados em sala de aula para evitar ataques, como o que vitimou 17 jovens em Parkland, na Flórida. Que tal? Ao saber que os professores estão armados, loucos e assassinos não chegariam perto das escolas, afirmou o iluminado líder norte-americano. Alguma razão ele tem. Haverá medo, muito medo. Eu mesmo sequer cogitaria pedir para ir ao banheiro, vendo o colt 45 sob o avental da profe.

Professores armados e treinados. As universidades colocariam, ao lado de cadeiras como a prática pedagógica e a psicologia da aprendizagem, treinamento de tiro e tomada tática de edificações. Os concursos teriam metade das provas na pista militar dos U.S. Marine, com um sargento berrando, “baixe esse glúteo, sua anta!”. Emprego preferido dos veteranos de guerra. “Tio do Jardim B esteve no Golfo, não desenhe um mar perto dele”. Cérebro e conhecimento? Não basta. É preciso mira de Rambo e performance de Capitão América. A seleção para titular da disciplina de matemática, nas escolas, colocaria professores rastejando sob arame farpado, virando cambalhotas com fuzis e capacetes e etc. No currículo, Mestre, PhD e Caveira. Uma nova ordem educacional.

E a escola, feita para encantar, aglutinar e construir saberes, teria em cada sala de aula xerifes, antes de educadores. Ao melhor estilo “old western”, se a criança no recreio sobre na árvore, o professor, botas e esporas sobre a mesa, saque rápido e ás no gatilho, vê a cena e... Bang! Um galho vai ao chão e ele diz à menina de olhos arregalados: “mais um passo e você também voa, baby”. Disciplina “hard”. Problema é o professor aquele, das provas raladas ao ensino médio (que lá se pode ter arma antes da idade permitida para uma cerveja com os amigos) que roda a turma inteira. Ao anunciar as notas, alguém reclama, ele saca a pistola e a garotada lhe aponta trinta fuzis ao mesmo tempo, tipo filme de guerra sobre o Afeganistão. Ou favela carioca. Mr. Trump, que tal pensar melhor sobre o tema?

Conversei com pais e docentes que vivem em comunidades escolares de áreas conflagradas, onde já fiz trabalhos voluntários. Nem os professores que já foram agredidos por alunos acham uma boa. Estar armado aumentaria de forma absurda o estresse, já bem grande, do cotidiano em sala de aula. Os pais não ficariam tranquilos ao deixar seus pequenos aos cuidados de alguém pronto para atirar, tipo guarda de presídio. Um professor amigo até brincou que Trump devia nomear o burro falante como seu conselheiro de governo, para dar um tempo nessas falas infelizes. Mas outra professora rebateu: aí não pode, é nepotismo.

Coluna de edição impressa de 24/02/18

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