Zona de perigo

Zona de perigo

Oscar Bessi

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Já foi o tempo em que a dica de segurança mais manjada era evitar ruas escuras em determinados horários. Não que as ruas tenham melhorado muito. Ao contrário. Ser brasileiro é viver com o ‘desconfiômetro’ ligado, em ruas claras ou escuras, na hora ou lugar que for. Mas além das vias físicas, as redes sociais, com a sua popularização, trouxeram uma nova zona de perigo. Pedófilos, golpistas, ladrões, traficantes, piratas de toda ordem. O que era para ser uma baita ferramenta de confraternização, virou terreno fértil para crimes diversos. E os criminosos se atualizam, inovam e multiplicam novas formas de fazer vítimas em série. Lamentável. E não é que as redes sociais sejam vilãs com seus exércitos de usuários conectados o tempo todo. São só os seres humanos e seus comportamentos alterados pela nova forma de se comunicar. De aparecer. E tirar vantagens disso tudo.


Em Porto Alegre, três pessoas foram presas por integrarem uma quadrilha que se passava por policiais e extorquiam empresários. Usavam as redes sociais para escolher suas vítimas e aplicavam o golpe, usando até um falso “juridiquês”: o acordo de fiança. Algo que nem existe. Também havia o golpe da “proteção criminosa”. Eles entravam em contato com empresários, alguns donos de revendas de veículos, e exigiam pagamentos periódicos para não cometer crimes contra o estabelecimento comercial. Tipo aqueles filmes policiais que a gente via nos anos 1970 e 1980, com máfias (quase sempre russas ou chinesas, era a guerra fria) arrancando dinheiro de pobres trabalhadores em um bairro. Até que um policial, sempre galã e meio doido, de óculos escuros e mascando chiclete, acabava com a festa. Pois aqui não é ficção. Nem máfia. Apenas grupelhos de bandidos, de tornozeleira eletrônica ou apenados, jurando ao nosso sistema que estão se recuperando. 


“Cuidado com o que postam nas redes!”, alertou o apresentador da Record TV. O mesmo conselho é repetido por policiais em palestras para jovens, estudantes e trabalhadores, em comunidades rurais e urbanas. A Internet é zona de perigo. As redes sociais também são. Por quê? Jung falou sobre o “arquétipo da sombra”, em seus estudos de psicologia analítica. O eu escondido que recebe a chance de aflorar sem o perigo do julgamento social. Cada usuário das redes é uma trincheira isolada, numa guerra só sua, com alvos próprios e uma proteção que a vida real e física não proporciona com tanta facilidade. Empoderamento. Imediatismo. Sensações e possibilidades. Máscaras e idealizações. Vantagens. E mesmo que as redes sejam fundamentais para vender melhor o seu negócio, de fato há que se ter cuidado. Pelo menos não ceder tão fácil a apelos e exigências. A boa e velha boca que vai a Roma, também vai aos caminhos da verdade. Maior perigo é sempre o silêncio. E a submissão.


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