F1 chega a Long Beach, torna Regazzoni famoso nos EUA e tem 1º ponto da Fittipaldi

F1 chega a Long Beach, torna Regazzoni famoso nos EUA e tem 1º ponto da Fittipaldi

Primeira prova oficial em 1976 teve show do suíço que desbancou as apostas no campeão Lauda

Bernardo Bercht

Suíço desbancou Lauda e ficou famoso nos EUA com vitória acachapante

publicidade

Em 2018 o PitLane acompanhou a decisão da Fórmula Indy em Sonoma. Antes de embarcar de volta ao Brasil, visitei uma loja de brinquedos antigos em Los Angeles e uma presença me intrigou por demais. O suíça Clay Regazzoni aparecia em pelo menos três prateleiras. Eram miniaturas, capacete, autoramas e até um boneco articulado. No país da Nascar, de Petty e Earnhardt, estava ali um vencedor de cinco GPs que nunca foi campeão de Fórmula 1.

A resposta para essa "popularidade" capitalista, provavelmente passa pelo GP de Long Beach. Afinal, as arquibancadas e ruas adjacentes lotaram para ver o GP inaugural de F1, em 28 de março de 1976. E o que os norte-americanos viram foi o domínio completo da corrida por Gianclaudio Giuseppe "Clay" Regazzoni e sua Ferrari 312T. A prova também foi histórica para o Brasil, com a equipe Copersucar-Fittipaldi conquistando um suado primeiro ponto na categoria, após bastante luta de Emerson a bordo do FD03.

Depois das reclamações e demolições de suspensões na prova teste de 75, a prefeitura da cidade tentou reduzir os calombos na pista e os tipos de superfície diferentes. Ainda assim, depois dos treinos, a ondulação da pista continuou sendo a questão mais falada. A outra era quanto ao domínio que deveria ser exercido pelo campeão Niki Lauda, que tinha à sua disposição dois chassis 312T para usar acertos diferentes na preparação. E a Ferrari tinha ampla vantagem ao tracionar das curvas fechadas, com seu motorzão boxer em cima do eixo traseiro.

Por conta do espaço disponível nos boxes e dos riscos para a largada, ficou definido que apenas 20 dos 27 carros largariam. Veio a classificação e Regazzoni surpreendeu a todos a bordo da única Ferrari que tinha para ele. Virou 1m23s099, meio segundo melhor que Lauda e na pole-position à frente de Patrick Depailler na Tyrrell. James Hunt abriria a segunda fila com a McLaren, ao lado do austríaco.

Emerson Fittipaldi tomou um sustos nos treinos e destruiu o bico mais atualizado do seu FD03. Ainda assim, com a peça antiga, conseguiu colocar o carro no grid, em 16º. O coitado do Ingo Hoffmann perdeu uma vaga por três décimos de segundo a bordo da outra Fittipaldi. Carlos Pace colocou a pesada Brabham-Alfa Romeo em 13º lugar. Os mais desapontados eram Michel Leclere e Jacky Ickx, ambos fora do grid com a Williams. O francês a um décimo de largar em 21º. O experiente belga sequer perto de entrar na parelha, em 25º, 3,4s atrás de Regazzoni.


As ruas encheram, os hotdogs foram vendidos, as apostas ainda eram em Lauda e veio a largada. Os parcos 20 carros logo se tornaram 16, vítimas do asfalto, muros e arrojo exagerado dos pilotos. Vittorio Brambilla ficou na arrancada. Carlos Reutemann demoliu sua suspensão traseira na curva antes da ladeira, com Fittipaldi desviando por pouco da Brabham manca na mureta. Gunnar Nilsson tirou a única Lotus classificada de campo, também com a suspensão quebrada.

Na quarta volta, Hunt exagerou para cima de Depailler no grampo, foi para fora da pista e também ficou pelo caminho. O francês ainda conseguiu voltar, mas a essa altura Regazzoni aproveitava para abrir mais de seis segundos para o pelotão, enquanto Lauda formava a dobradinha Ferrari. A expectativa era do austríaco rapidamente chegar no escudeiro da Scuderia... Estavam errados, o suíço estava possuído pela velocidade e parecia desfilar entre os muros como se fosse uma pista de aeroporto deserta, abrindo mais de um segundo por passagem a Lauda.

Com a Tyrrell desalinhada, Depailler rodou e deixou Jody Scheckter e Jean-Pierre Jarier passarem. Raçudo, o piloto da Tyrrell se adaptou ao desalinhamento e começou a se recuperar. Antes da metade, Tom Pryce e Scheckter foram castigados com problemas nos seus motores Cosworth, enquanto Ronnie Peterson torrou os freios da sua instável March enquanto tentava batalhar pelo pódio. Depailler, então, deu um jeito de passar Jarier e voltou ao pódio. Mais que isso, Lauda não tinha ritmo e o francês pressionou pelo segundo lugar até cinco voltas do fim, quando decidiu poupar o combalido equipamento para garantir o troféu.

Mais atrás, Jarier batalhava com freios ruins e foi passado pela Ligier de Laffite e pela McLaren de Jochen Mass. Fittipaldi, que passou a corrida meio solitário, conservando o carro uma volta atrás e fora dos pontos, recebeu aviso dos boxes sobre a Shadow vacilante. Apertou o ritmo viu e, a duas voltas do fim, se atirou para cima e assumiu o sexto posto. Era o primeiro e valoroso pontinho da Copersucar-Fittipaldi, o F1 brasileiro.

E foi assim que, depois de 80 voltas, os norte-americanos aprenderam o nome de Clay Regazzoni e já prepararam os souvenirs. O suíço venceu com inesgotáveis 42s para Lauda, fora o bailão country...


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895