Gilles Villeneuve define automobilismo em 35 momentos da sua história

Gilles Villeneuve define automobilismo em 35 momentos da sua história

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O piloto que representou a paixão visceral do automobilismo, o cara que era puro rock"n roll dentro de um cockpit nos deixou em oito de maio, exatamente 35 anos atrás. O pequeno gigante, Gilles Villeneuve, foi um fenômeno de ousadia que deixou um legado muito maior que seus resultados na Fórmula 1. O canadense acendeu a paixão Ferrari a níveis nunca antes imaginados e cada uma de suas seis vitórias foi um show à parte, sem contar muitos outros espetáculos que propiciou nas pistas.

Para homenagear esse monstro das corridas, tragicamente morto nos treinos para o GP de Zolder de 1982, separamos 35 momentos completamente Villeneuve. Forza Gilles!

gillesnowSnow-Mobile Derby - 1974
Os melhores começam no kart... Imagina o cara que antes de ir para o asfalto foi campeão mundial do Snow Mobile Derby! Gilles juntou dinheiro das vitórias em motos de neve para financiar sua carreira no automobilismo. Ser campeão auxiliou na caça de patrocínios também. Dizem a lenda que Gilles só era tão bom na chuva por conta da experiência com as nevascas...

troisriviere1976Formula Atlantic - 1976
Meio fora do mapa da F1, Villeneuve patrolou o campeonato americano de Formula Atlantic em 1976. Numa prova comemorativa, em Trois Riviere, o campeão mundial de Fórmula 1 James Hunt levou um laço do canadense e contou para McLaren, impulsionando a história. Mas deve estar arrependido até hoje!

gilles-villeneuve-mclaren-m23-1977McLaren M23 - 1977
Que tal estrear na Fórmula 1 com um carro três anos mais velho e colocar tempo no companheiro veterano? Villeneuve largou em nono no GP da Inglaterra com o McLaren M23, patrolando Jochen Mass que estava com o M26. No começo da corrida, ainda pressionou o veterano James Hunt. Poderia ter feito pontos, não fosse um problema elétrico que tirou potência do carro nas voltas finais.

fiorano1977Lembrou Tazio Nuvolari a Enzo Ferrari e ganhou vaga em 1977
Villeneuve foi convidado para testar com a Ferrari em Fiorano e deixou os engenheiros nada felizes. O canadense destruiu jogos de pneu e não fez tempos particularmente bons. Só que ele foi chamado para conversar com Enzo Ferrari que, no papo, viu o espírito de Tazio Nuvolari e assinou por dois anos. Ninguém entendeu, mas o velho Enzo aparentemente tinha faro apurado para lendas.

batidapeterosn77Batida no Japão com Peterson - 1977
Depois de uma corrida ruim de estreia com o novo patrão, o que você faz na segunda? Atropela um adversário em plena reta, voa pelos ares com várias cambalhotas e para vivão da silva com o carro destruído. Foi assim no Japão em 1977, após bater em Ronnie Peterson. Muitos pediram inclusive a suspensão do canadense, mas no fim das contas o peso político da Ferrari manteve tudo como estava. Não mudou, claro, o arrojo exagerado de Villeneuve.

312T5nakedTeste com a Ferrari 312-T5 sem qualquer carenagem em Fiorano - 1978
Diz a lenda que Villeneuve estava tão ávido por testar a Ferrari para a temporada de 78 que, em Fiorano no inverno, foi para a pista sem a carenagem. A teoria mais séria é que era apenas um ensaio do motor e os técnicos queriam evitar problemas de refrigeração. Emblemático o piloto totalmente exposto aos perigos e sem a ajuda aerodinâmica. Só com Villeneuve mesmo.

gillesCan78Montreal -  1978
Uma lenda só poderia ter sua primeira vitória com uma aura especial. Gilles Villeneuve estreou no degrau mais alto do pódio em pleno GP do Canadá, salvando um ano bem ruinzinho com a Ferrari e inaugurando uma certa tradição. Ao cruzar a linha de chegada, pegou uma bandeirinha quadriculada e fez sua volta da vitória.

gilleskya79Kyalami - 1979
Parecia que ia embalar... No GP da África do Sul, primeiro do revisadíssimo 312-T4, Villeneuve ultrapassou o mais veterano Jody Scheckter e mandou na corrida. Não quis nem saber se era o GP caseiro do colega de equipe. Scheckter tinha largado na frente, achou que ficaria por isso mesmo e viu o canadense sumir. No final, Gilles reduziu um pouco e completou três segundos antes do sul-africanos.

watkinrace79Watkins Glen,  11 segundos mais rápido que todos na chuva - 1979
Não foi só em corridas que Gilles assombrou. Nos treinos para o GP dos EUA, uma chuva torrencial fez ele protagonizar algo legendário. Scheckter tinha a volta mais rápida "correndo os maiores riscos da vida", segundo ele. Eis que Gilles foi para a pista e cravou uma marca um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze (!!!) segundos mais rápida

watkinschuva79GP dos EUA - 1979
A corrida também foi com chuva e aí, meus amigos, apenas em 1985 - com um certo Ayrton Senna da Silva - teríamos humilhação similar para os rivais. Villeneuve ganhou com 30 segundos de vantagem para Scheckter. E teria sido uma volta inteira, não fossem problemas de pressão do óleo, que obrigaram a tirar o pé no fim. Sumiu no spray e só foram encontrar o cara no pódio.

driftmonaco79Guiando de lado em Mônaco - 1979
É a pista mais estreita do calendário, naquela época tinha verdadeiros bueiros e cordões de calçada nos seus limites, chegar no fim já era o suficiente para muitos. Gilles Villeneuve fazia todas as voltas de lado, beliscando o muro com os pneus...

dijon79Dijon Prenois - 1979
O espetáculo definitivo de Gilles Villeneuve não poderia ser algo banal, como vencer um GP. Aqui, a disputa era pelo segundo lugar. Com pneus gastos, carro desequilibrado e alguns parafusos a menos, ele trocou de posições com René Arnoux batendo rodas, saindo da pista, fritando borracha e se divertindo horrores. O maior show em qualquer corrida de todos os tempos e ninguém lembra que Jean-Pierre Jaboullie ganhou aquele dia.

imola793rodasZandvoort em três rodas - 1979
Villeneuve ainda acreditava no título no GP da Holanda, apesar da maior regularidade de Scheckter. Para tanto, tentava vencer do seu jeito, agressivamente. Liderava na volta 47, quando rodou na frente de Alan Jones. Tentando se recuperar, viu o pneu estourar na volta 51 e rodou até a brita. Fim de papo? Nada disso: engatou marcha ré e, ao invés de voltar aos boxes devagarzinho, saiu esmirilhando o carro. O eixo traseiro quebrou, a Ferrari virou um triciclo e em momento algum ele tirou o pé, às vezes guiando em duas rodas! Nos boxes, foi difícil tirar o baixinho do cockpit.

gillesmonaco80Quinto em Mônaco - 1980
A Ferrari ainda não tinha dominado o efeito-solo em 1980, o resultado foi um carro horroroso que não tinha qualquer chances contra os garagistas ingleses. Não fosse Villeneuve. A primeira mostra disso foi com os primeiros pontos da temporada, um quinto lugar onde era possível, no travado circuito de Mônaco.

villecanada1980Montreal 1980 - de último para quinto na tenebrosa Ferrari 312
Jody Scheckter sequer conseguiu tempo para entrar no grid do GP do Canadá. Correndo em casa, Villeneuve fez milagre e alinhou em vigésimo segundo. Lá de trás, batalhou incansavelmente até aparecer em quinto na bandeirada. Um esforço de gigante que levantou seus fãs locais e sedimentou a lenda na Ferrari.

imola1980pancaImola 1980 - 2 segundos mais rápido que Scheckter, batida
Nos treinos para o GP da Itália de 1980, Villeneuve foi dois segundos mais rápido que Scheckter na cadeira elétrica da Ferrari para largar em oitavo. Fazia o carro render na coragem mesmo, sem ter como batalhar com os ponteiros. Na corrida, andou mais que o 312-T e estampou o muro violentamente. Saiu da corrida, nos braços dos Tifosi.

gilleszeltweg1980Zeltweg - 1980
Sabe como se faz para colocar a Ferrari em décimo quinto no grid para o GP da Áustria? Assim, passando a milímetros da mureta de proteção numa curva a 240 km/h... Jody Scheckter não conseguiu fazer e foi apenas vigésimo segundo naquela barcaça horrorosa que Enzo chamou de carro.

monacobanhogillesUm banho em Scheckter com quatro pontuações em 1980
O campeão Scheckter foi praticamente aposentado por Villeneuve em 1980. Num carro ruim, um remendo de projeto do campeão de 1979 com a tentativa de gerar efeito-solo, o sul-africano tomou um banho de água fria do canadense. Villeneuve pontuou quatro vezes enquanto Scheckter só conseguiu um quinto lugar.

Monaco1981Mônaco - 1981
Como guiar em Mônaco quando você herdou a liderança e está administrando para ganhar pela primeira vez no principado? Tirando faísca de cada guard-rail disponível. Vamos reparar a roda, além da zebra, pegando o cordão da calçada, flertando com o desastre a cada esquina de Monte-Carlo.

silverstone1981Silverstone - 1981
Villeneuve achava normal guiar o carro de Fórmula 1 assim. O estrago aconteceu após ele mesmo rodar e provocar um engavetamento no começo da corrida. Tentou voltar, fez uma volta inteira com a supensão torta até o pneu furar. Aí, ele viu que não deu e abandonou. Pelo menos aprendeu e não desmanchou o carro como em 1979.

jarama1981Jarama - 1981
O pequeno canadense não aceitava os limites da física para vencer uma corrida. No GP da Espanha, um circuito terrível para a falta de aderência do seu Ferrari, fez uma largada maluca de sétimo e conseguiu assumir o segundo lugar. Quando o líder Alan Jones quebrou, assumiu a ponta e viu quatro carros mais rápidos se revezarem no seu aerofólio sem conseguir passar. Uma vitória magistral, com 1,24s de diferença para o quinto.

(CPT3-June 15)--Gilles Villeneuve found himself driving blind at the Canadian Grand Prix in Montreal in 1981 when his front spoiler started peeling off his Ferrari. Villeneuve ended the race in third place. (CP PHOTO) 1996 (str)

Montreal 1981 - Sem enxergar
Limites da física vá lá, mas chegar no pódio sem enxergar a pista? Também trabalhamos. Ele não podia fazer feio em casa, mas o aerofólio dianteiro quebrou. A carenagem se dobrou na frente do cockpit e Villeneuve, sob uma chuvarada, não via quase nada na frente. No instinto, na sorte e no puro desapego, levou o carro assim até o pódio, em terceiro lugar.

jetfighter1981Villeneuve vs caça de combate - 1981
Era uma peça promocional, mas Villeneuve não quis saber de dublê. Em 1981, ele encarou na arrancada dentro do aeroporto um caça de combate da Força Aérea Italiana. O canadense queria ser mais rápido que qualquer outra coisa, e em quatro rodas.

caesarspalace2smelhor81Caesars Palace - 1981
O GP dos EUA de 1981 foi disputado num estacionamento de hotel, com asfalto derretendo cheio de bumps e várias curvas de 90 graus. Poucos pilotos gostaram, mas Villeneuve se divertiu, pulando zebras e fazendo malabarismos. O resultado foi colocar dois segundos de diferença no companheiro Pironi e largar em terceiro com a ultrapassada Ferrari.

casesar81gridGrid do GP dos EUA - 1981
Só que a empolgação pagou seu preço. Villeneuve queimou a lagada e acabou desclassificado do GP. Recusou-se a recolher para os boxes e segurou uma fila de carros mais rápidos achando que lutava pelo pódio. Vale falar que tinha gente disputando o título nesse trem? Acho que ninguém se importa mais...

zeltwegpimba81Zeltweg - 1981
Villeneuve disparou como um raio com a Ferrari, de terceiro para a liderança. Aquela jamanta não merecia estar na ponta e logo foi ultrapassada por Alain Prost. Villeneuve não aceitou, tentou ficar perto, torrou os pneus e, centímetro por centímetro, acabou no muro.

gillesmonaco81Trucidou Pironi em 1981
Villeneuve trucidou Didier Pironi em 1981, com 25 pontos contra 9 do francês. Foi uma patrola como poucas. Fez primeira fila de grid, o companheiro nenhuma. Ganhou corridas, Pironi nem perto. Em quase todas as largadas, quem estava na frente era o canadense. Não é à toa que ele se julgava predestinado a ganhar o título quando a Ferrari finalmente acertasse a mão num carro.

brazil82Brasil, sem tirar o pé contra Piquet - 1982
A Ferrari tinha mais potência no motor, mais desenvolvimento... Como é que essa Brabham está na frente. Gilles Villeneuve não aceitou e tentou de tudo para passar Nelson Piquet. Rodou e acabou na grama. Podia ter ganhado fácil, pois a Brabham foi desclassificada por usar tanques de água como lastro.

brazil82maispironiBrasil 1982, classificação
Que tal largar em segundo quando seu companheiro é apenas o oitavo? E se a diferença no cronômetro for de dois segundos? Foi essa patrola que Villeneuve ofereceu a Pironi na classificação para o GP do Brasil, em Jacarepaguá. Nas palavras do famoso comercial de bebida láctea com as crianças vestidas de bichinho... Tomô?

imola82Imola - 1982
Um acerto foi feito nos boxes antes da corrida. A Ferrari ainda não havia vencido, era o GP da Itália e não seria tolerável um acidente. Liderando com folga, Villeneuve foi informado que Pironi não atacaria nas voltas finais. O francês aproveitou a tranquilidade do colega e ultrapassou na malandragem. Villeneuve mostrou o carro, acreditou até a última volta que seria devolvida sua vitória e amargou o último pódio

podiumimol82Imola, pódio - 1982
Amargura é o sentimento transpirando de Villeneuve em todas as fotos de pódio em Ímola. Depois de ajudar Scheckter a ser campeão em 1979, o ídolo da Ferrari não estava preparado para uma facada nas costas como a de Pironi. A manobra de San Marino teria repercussões fatais em breve.

zolder82pistaZolder - 1982
Villeneuve estava realmente impactado em Zolder, nos treinos para o GP da Bélgica. Errático, viu Pironi roubar a pole por 0s1, mas não desistiu de buscar esse primeiro lugar até os minutos finais. O ímpeto não podia terminar até onde estava o muro.

zolder82Zolder, batida - 1982
A tragédia veio na última tentativa de superar Pironi. Villeneuve abriu volta rápida e, sem tirar o pé, tentou passar Jochen Mass, que vinha lento com a March. Mass quis dar espaço no traçado ideal, Gilles não entendeu e foi arremesado para o alto. A Ferrari bateu de frente contra o chão e se desmanchou, arremessando o piloto contra o guard-rail.

gillesenzoGilles e Enzo
Nenhum piloto e talvez nem os filhos tiveram o carinho que Enzo Ferrari manteve por Gilles Villeneuve. O patriarca do maior time de competições da história não continha esforços para ver a guiada apaixonada do canadense. Talvez tenha sido a maior tragédia para Enzo ver Gilles partiu num dos seus carros.

gillesjacquesGilles e Jacques
O filho Jacques conviveu com a paixão das corridas desde o começo. Se criou dentro de um cockpit, como se o canadense já estivesse passando o bastão desde o comecinho, otimizando o tempo. Deu certo, Jacques faria o que o pai não fez como campeão mundial de 1997.

 

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