Hans Heyer, o piloto que não classificou, mas deu um jeitinho de correr na F1 em 1977

Hans Heyer, o piloto que não classificou, mas deu um jeitinho de correr na F1 em 1977

Alemão fez volta com câmera onboard e estacionou carro na saída dos boxes para largar com o pelotão sem ser autorizado

Bernardo Bercht

Pura simpatia e malandragem do herói alemão

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O profissionalismo quase robótico da Fórmula 1 atual torna difícil acreditar nas peripécias que alguns aventureiros fizeram para entrar num "Grand Prix" em seus primórdios. Mas ninguém levou o troféu "malemolência, toca y me voy" como o pitoresco alemão Hans Heyer e seu chapeuzinho tirolês.

No GP de Hockenheim de 1977, o sorridente cidadão de Mönchengladbach, aos 34 anos estava decidido a entrar no grid e, com seus contatos locais arranjou um antiquado Penske PC4 da equipe ATS para tentar a sorte. Com amplo currículo nos monopostos de DUAS corridas na Fórmula 2, com um sétimo lugar como melhor resultado e uma não-classificação, Heyer foi à luta com a certeza de que o conhecimento da pista jogaria a seu favor.

Errou feio, errou rude, errou por muito. Na sexta-feira, não conseguiu ir além de 2min01s com seu tempo de volta, uns seis segundos pior que o primeiro que entraria na parelha. Veio o sábado e, vale um chope, Hans melhorou para 1min57s58. Era um tempo competitivo, ainda mais para um novato, menos de cinco segundos da pole. Só que apenas 24 deveriam largar no domingo e nosso herói foi apenas o 27º, atrás ainda de Patrick Néve e Emilio de Villota.

Aí Heyer apelou para o "jeitinho alemon" e foi conversar com os comissários de prova, seus velhos conhecidos das corridas do Europeu de Turismo. Ele seria apenas o terceiro piloto reserva para o GP, mas passou o "chalalá" nos fiscais e foi alçado a primeiro reserva. Para reforçar sua "presença" na corrida, inventou com a emissora de TV alemã fazer uma volta com câmera onboard exatamente antes da corrida, como atração para a transmissão do GP.

Menos de hora antes da corrida, lá foi Hans para a pista, curtir a emoção de milhares de alemães acenando para ele e seu Penske. Ao completar a volta, ao invés de entrar nos boxes, ele reduziu e parou de forma perpendicular, exatamente antes da mureta de proteção começar. Ali ficou, entre seus mecânicos e alguns fiscais.

O grid foi em frente, fez a volta de apresentação e alinhou para a partida. No sinal verde, Heyer esperou os ficais saírem da volta e, quando o pelotão acelerou, foi junto, sem sequer esperar todos os carros partirem de suas marcas.

O tirolês nem deveria estar no meio da brincadeira, mas na metade da primeira volta já era o 15º colocado. Largou na frente de vários carros, em seu lugar estratégico e ainda aproveitou um enrosco na primeira curva para ganhar mais posições. A aventura tresloucada durou nove passagens. Ao mesmo tempo que Heyer parava nos boxes com o câmbio quebrado, um fiscal de prova mostrava uma bandeira preta de desclassificação.

Hans Heyer é o ilustre detentor de um recorde exclusivo na F1. O único a registrar uma não-classificação para o grid, uma falha de largada e uma desclassificação da corrida por infração esportiva. A história para contar aos netos, de disputar freadas com Ronnie Peterson e sua Tyrrell, ninguém tira!


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