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Leandro Juncos troca gramados sul-americanos pelo asfalto da Europa

Piloto sul-americano começou carreira no futebol de base brasileiro, chegou à Primeira Divisão da Argentina, mas mudou carreira por sonho da Fórmula 1

Primeira vitória na Europa veio em Donington Park
Primeira vitória na Europa veio em Donington Park Foto : Hillspeed / Divulgação CP

Leandro Juncos, 20 anos, quer chegar à Fórmula 1. O piloto sul-americano deve ter começado esse caminho no kart, portanto? Nada disso. Até o início do ano passado ele era um "enganche", um camisa 10 do futebol argentino. Sim, Leandro decidiu abandonar a carreira no Central Córdoba, time da primeira divisão da Argentina, para seguir o sonho de ser piloto.
O pai de Leandro, Ricardo Juncos, é o primeiro latino-americano dono de uma equipe de Fórmula Indy, a Juncos Hollinger. Mas na infância de Leandro ela ainda não existia, assim como a verba para começar uma carreira de piloto. “Comecei no Brasil. ninha mãe é de Minas Gerais e, como não tinha ‘a plata’, fui jogar na base do Democrata”, narra o jovem. “Joguei desde os 3 anos de idade, fiquei muito tempo na Argentina, até os 17, 18 anos. Joguei na reserva do Central Córdoba e cheguei a atuar na Primeira Divisão.”

Leandro atuou como meia no Central Córdoba | Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação CP

“Não estava fazendo aquilo com amor, o futebol. Daí, em 2024, decidi mudar tudo”, comenta. “É uma aventura nova, mas muito legal.” Leandro lembra o momento em que tudo mudou, perto de maio de 2024. “Eu não estava feliz. Sempre fui às 500 Milhas de Indianápolis com minha família e, naquele ano, não fui. Senti falta das corridas e do contato com eles.”
Ele teve sua primeira oportunidade real em um teste com a equipe D-Force da Fórmula 4, nos Estados Unidos, após trabalhar com o time do pai — a Juncos Hollinger Racing, da Fórmula Indy. Mas não era no cockpit, ele ajudava com a estratégia de prova do compatriota Agustín Canapino.
Quando sentou no carro, o desempenho chamou atenção: “Foi no molhado e terminamos em primeiro. Aí surgiu a chance de fazer algumas corridas e depois seguir para a Inglaterra.”
Juan Manuel Fangio? Carlos Reutemann? Não, a referência de Leandro é de um tricampeão brasileiro, que ele garante, ajudou em sua primeira vitória, na lendária pista de Donington Park. “Assisti à corrida do Ayrton Senna (de 1993) na F1TV para aprender o traçado e as linhas na chuva. Deu sorte, porque também choveu bastante no fim de semana da minha vitória.”
Para quem não era nascido, não viu ou não lembra, em 1993 Senna escalou de quinto para a liderança, na encharcada pista de Donington, apenas na primeira volta de corrida. Depois, dominou e só não colocou uma volta de vantagem no segundo colocado, Damon Hill.
O começo do ano foi promissor, também em Donington, com muitos pontos e algum pódio. Mas o meio da temporada parecia colocar um freio na ascensão do argentino. Na última etapa, contudo, a aposta deu certo. E já em 2025, seu primeiro ano, venceu pela primeira vez no automobilismo europeu, pela categoria GB4, a Fórmula 4 britânica.
O jovem piloto cresceu em meio à oficina e aos boxes da equipe do pai, Ricardo Juncos, referência na IndyCar. “Trabalhei com meu pai, meus tios e minha mãe desde pequeno. Cresci nas corridas, mas não tinha dinheiro para competir, então fui para o futebol.”
Hoje, aplica na Fórmula 4 muito do que aprendeu nos bastidores da Indy: “Aprendi observando Canapino e Conor Daly (ambos pilotos da Indy). O piloto precisa entender o carro e saber liderar a equipe. Tento usar isso agora, mesmo em menor escala, nas categorias de base.”

Foco está em disputar a Freca em 2026 | Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação CP

Com a primeira vitória na conta, Leandro busca apoio para seguir no automobilismo europeu. “A vitória ajuda com patrocinadores, mas é difícil competir com pilotos que têm grandes orçamentos. Quero continuar na GB3 ou na Freca (Fórmula Regional Europeia), mas ainda depende de apoio.”
A meta é clara: trilhar o caminho até a F1, inspirando-se em nomes como Franco Colapinto e Gabriel Bortoleto. “O Colapinto abriu uma porta importante para a Argentina. Faz tempo que não tínhamos pilotos sul-americanos na Fórmula 1. Isso motiva e ajuda a conseguir apoio.” No vácuo de Canapino e do brasileiro Bortoleto, ele espera num futuro breve abrir asa móvel e ir para a disputa direta com as jovens promessas no topo do automobilismo.

Transição rara

A transição de jogador de futebol para piloto de corrida é uma trajetória pouco comum, especialmente em idade tão jovem. Leandro Juncos tem uma potencial carreira de mais de uma década pela frente em alto nível.
Na maioria dos casos, ex-jogadores migram para as pistas depois de encerrar a carreira nos gramados. O argentino Roberto “Pato” Abbondanzieri, por exemplo, ex-goleiro do Inter, do Boca Juniors e da Seleção Argentina, competiu em provas de turismo, entre os Turismo Carretera de sua terra e do rally após se aposentar. Ele estreou em 2011, na Top Race Series, formando dupla com outro ídolo hermano, Martin Palermo.
O francês Fabien Barthez, campeão mundial de 1998, também se destacou ao correr nas 24 Horas de Le Mans, chegando ao pódio em sua categoria. Na prestigiada Blancpain Endurance GT Series, o arqueiro soma diversas vitórias, pódios e pole-positions, ficando em terceiro no campeonato de 2018.
Outros exemplos incluem Raimond van der Gouw, ex-Manchester United, que se aventurou no automobilismo holandês, e Mathias Lauda, filho de Niki Lauda, que jogou futebol nas categorias de base antes de optar definitivamente pelas corridas.
O caso de Leandro é o inverso: ele trocou o futebol ainda jovem para começar do zero no automobilismo. E não foi uma carreira sem potencial, já que o garoto atuou na base do River Plate antes de ir para o time principal do Central Córdoba. Atuou na campanha de 2023 e iniciou a trajetória do time que seria campeão da Copa Argentina, em 2024.

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