Livro homenageia o professor Robert Ponge

Livro homenageia o professor Robert Ponge

Ruben Daniel Castiglioni *

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Recentemente foi lançado “Entre Mundos – Ensaios sobre vanguardas, literatura e tradução em homenagem a Robert Ponge”, professor do Instituto de Letras da Ufrgs. A obra, organizada por Beatriz Cerisara Gil, Rodrigo Lemos e Vanessa Schmitt, reúne um seleto grupo de autores com textos sobre seus próprios estudos e pesquisas, onde não faltam o afeto e a admiração pelo legado do mestre, que foi, em muitos casos, o orientador de suas teses e dissertações. Também, certamente, um certeiro guia na trajetória profissional de cada um deles. 
O surrealismo e as vanguardas, teatro e poesia em língua francesa, estudos sobre tradução e um artigo do próprio homenageado sobre o surrealismo, fazem desta obra uma realização única, que reflete anos de pesquisa, de docência e de vida dos autores.
Conforme os organizadores, e tratando de entender a aventura da viagem iniciada nos anos 70 pelo professor (que nasceu em Paris, no final da II Guerra Mundial), “Robert Ponge, presta testemunho de uma consciência aguda do valor do outro (...) do outro país, da outra cultura, do outro tempo, do outro ponto-de-vista, do outro pensamento, sobretudo da outra pessoa. Essa consciência do valor do outro se traduz em um compromisso com a clareza e a precisão no uso da palavra, o qual ele se esforçou em infundir em seus alunos, mas sobretudo nos três interesses intelectuais permanentes do seu percurso como professor e pesquisador: a língua, a história e a literatura.” 
Ponge, formado na Sorbonne, na área de letras, lecionou primeiro em Londres e depois, na Jamaica. O acaso objetivo o trouxe a Porto Alegre, em 1972. Na Ufrgs ministrou aulas de língua francesa e de tradução, destacando-se no estudo das dificuldades da tradução da língua francesa ao português. No campo da história, pesquisou, entre outros temas, a Revolução Francesa, a Comuna de Paris, a revolta operária-estudantil de maio de 1968:
“Ao longo dessa trajetória, Robert Ponge deu provas de uma consciência aguda da particularidade irredutível de cada época e dos impasses gerados pela tentação, comum entre os iniciantes no campo, de projetar o presente no passado, de reduzir o outro ao mesmo contemporâneo.”<VS10.5>
surrealismo e literatura. O surrealismo, o movimento artístico mais importante do século XX é o assunto ao qual mais tem se dedicado. Surgido em Paris, sua terra natal, há quase 100 anos, era um movimento artístico-literário pouco difundido no Brasil e os estudos e pesquisas quase inexistentes. Foi apenas em 1985 que apareceu a primeira tradução no Brasil dos “Manifestos do surrealismo”, do líder do movimento, André Breton. A obra, “O surrealismo”, elaborada pelo professor Ponge em 1991 e publicada pela Editora da Universidade, foi o mais completo estudo sobre o tema. 
A essa publicação lhe seguiram várias, com destaque para “Surrealismo e Novo Mundo” (1999). Como impulsor e organizando vários eventos sobre o tema, a atenção sobre o surrealismo por parte dos críticos e investigadores foi mudando. Hoje há um corpo de escritores e estudiosos que se dedicam ao tema, e há uma ampla rede de contatos nacionais e internacionais. Nas diversas publicações fica evidenciado o caráter do surrealismo como a mais profunda formulação do sonho romântico e o resgate de princípios morais e atitudes éticas, além da uma estética, uma poética e práticas artísticas e literárias revolucionárias, em contraste com o popular conceito de algo estranho, excêntrico ou mesmo ridículo. 
Não é comum fazer referência ao grau superlativo na docência, mas como foi ressaltado no lançamento do livro, é uma merecida homenagem a um professor pelo incentivo à leitura e à pesquisa em seus alunos, e também - e principalmente, pela intensidade de sua produção, pela profundidade de seu pensamento, pela significação ética de seu trabalho, pela festa de erudição de suas aulas e pelo acolhimento e ensinamentos que propicia há mais de 40 anos. 

* Autor: Ruben Daniel Castiglioni - Professor da Ufrgs - CNPQ

 


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