Peça narra a paixão de um homem por sua pátria e gente

Peça narra a paixão de um homem por sua pátria e gente

Caco Coelho está à frente de ‘Leonel’, que marca o centenário de Leonel Brizola e estreia no próximo dia 21

Vera Pinto

Elenco da peça em ensaio, no Multipalco Theatro São Pedro, que sediaria a curta temporada, transferida para um espaço maior, propício ao distanciamento

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Realizada pela Fundação Caminho da Soberania, “Leonel”, com roteiro e direção de Caco Coelho, estreia de 21 a 23 de janeiro, às 21h, no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, na programação do Porto Verão Alegre. A peça aborda três fases da trajetória política e pessoal de Leonel de Moura Brizola (1922-2004), reunindo 14 artistas para viverem quase cem personagens. Vera Holtz assina a supervisão do trabalho, com direção de movimento de Eduardo Severino e participação ao vivo do cantor Pirisca Grecco e do pianista João Maldonado, convidado especial, juntamente com a atriz Fernanda Carvalho Leite. 

A trama, acompanhada por imagens e entrevistas históricas em video mapping é conduzida pela atriz e cantora Camila Falcão. Paulo Roberto Farias interpretará Brizola desde seu nascimento em Cruzinha, localidade de Carazinho, até o início do exílio, no Uruguai. Lisandro Pires Belotto assume o papel a seguir, focando na lida com o campo e o retorno ao Brasil, após 15 anos distante. Caco Coelho entra na fase final, quando o protagonista vive uma das maiores dores de sua vida: a morte de sua esposa Neusa, com quem foi casado por 46 anos, vivida por Marina Mendo. Nesta fase pós-eleitoral, ele decide que sua participação na vida brasileira deve ser de contribuir com o melhor de sua capacidade. 

“O tema da peça é a paixão de um homem por sua pátria e gente, que lutou incessantemente pela soberania de seu país”, diz Caco. O diretor, dramaturgo e ator menciona o político comunista Luís Carlos Prestes, que afirmou: “pode-se dizer qualquer coisa de Brizola, mas ele jamais se distanciou de sua gente”. 

A relação de Caco com Brizola é estreita, começando por sua avó, Cecy Cordeiro Thofehrn, que desenvolveu o plano educacional implementado nas mais de 6 mil escolas que Leonel construiu no RS. Como coordenadora do Centro de Pesquisa e Orientação Educacional, os livros implantados nas instituições eram de sua autoria: “Estrada Iluminada” e “Nossa Terra, Nossa Gente”. Seu pai, Saulo Notarjagamos Coelho, era médico da família e acabou preso na casa de Brizola, no golpe militar de 1964. Formado em Medicina em 1959, logo depois veio a Legalidade e em 1961, o nascimento de Caco. “Quando foi anunciado que haveria bombardeio, ele e um colega foram para o Palácio Piratini montar uma barraca de primeiros socorros. Ele atuou na Legião Brasileira de Assistência (LBA) com dona Neuza Brizola, que chegou a dizer que ele foi o maior amigo que ela teve”, diz. Ao atender uma copeira com febre na casa deles, antes de ser invadida, ele foi preso. “Eu lembro de falar, com dois ou três anos, que ele havia voltado da cadeia. Depois foi preso de novo aqui em casa”. Sua família foi visitar Brizola no exílio, quando Brizola manifestou a vontade de revê-los em sua volta ao Brasil. “Meu pai foi enterrado com a bandeira do PTB e uma orquídea que Brizola tinha mandado”, declara. Quando foi governador do Rio de Janeiro, Caco foi trabalhar com ele, na gestão que implementou os Cieps, o Sambódromo e que fomentou o movimento das Diretas Já. Seu filho adolescente Gabriel segue seus passos, ao ingressar na Juventude Socialista. “Foi muito rico e fantástico, especialmente no sentido humano, estar nestes bastidores. Até hoje me sinto próximo dos ideais dele”, afirma. 

A narrativa tem como ponto de partida o ano de 1922, marcado no Brasil pela Semana da Arte Moderna e os 18 do Forte, movimento tenentista que levará Getúlio Vargas ao poder, caminho do trabalhismo, porta de entrada de Brizola na política. “Sinalizamos a Revolução de 1923, ele conhecendo Getúlio, a morte de seu pai, a vinda para Porto Alegre, sua atuação como ascensorista, o encontro com Neusa, como prefeito e governador e por fim a Legalidade”, detalha Caco. Ao se afastar da luta armada, no exílio, muda a cadência, chegando à fase eleitoral, que mostra a faceta emocional, resistente e tensa de Brizola, quando estava distante de seu país. E por fim, seu lado mais reflexivo. Extremamente atual, o texto discorre sobre “o homem que queria dar um instrumento de libertação do povo, através da educação, promoção do trabalhador e a superação do complexo de vira-lata”, finaliza Caco. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895