Vírus inocente

Vírus inocente

O senador Girão citou em seu requerimento o fato de a Polícia Federal conduzir 61 investigações sobre fraudes diversas com dinheiro federal, mas isso não motivou até agora os inquisidores da Comissão.

Alexandre Garcia

publicidade

Esse início de CPI não surpreendeu. Os senadores da Comissão agiram como era esperado. E os depoentes também. Muitas intenções, suposições e ainda sem revelações. Recebemos o já ouvido, já visto, já sabido. Como no senado da Roma antiga, agitaram-se questores e catilinas e até catões a repetir delenda Bolsonaro, delenda Bolsonaro. Não fingem isenção e deixam claro o objetivo, conhecido por gregos e troianos, de enfraquecer o presidente para evitar reeleição. Depois dos interrogatórios, há entrevista para acertar a versão do acontecido, uma espécie de extensão do palanque.

A CPI se instalou por ordem de um juiz do Supremo – o que, certamente, não teria acontecido se o presidente do Senado fosse Antônio Carlos Magalhães. O presidente Pacheco curvou-se e considerou dois requerimentos: o primeiro, do senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), com 31 assinaturas, e o do senador Eduardo Girão (Podemos/CE), com 45 assinaturas. O das 31 assinaturas tornou-se vice-presidente da Comissão, e seu objetivo de investigar o presidente prevalece sobre o do senador de 45 assinaturas, que é investigar o destino dos bilhões federais aos estados e municípios.

Com isso, CPI investiga o provedor dos recursos e não os executores dos gastos. O senador Girão citou em seu requerimento o fato de a Polícia Federal conduzir 61 investigações sobre fraudes diversas com dinheiro federal, mas isso não motivou até agora os inquisidores da Comissão. Mesmo porque nela há dois pais de governadores – um deles o próprio relator – e um ex-governador, com a família investigada em desvios da saúde – o próprio presidente da Comissão.

As lideranças partidárias que indicaram os integrantes da CPI desafiaram a memória popular sobre a ficha dos inquisidores. A CPI ainda não se deu conta do que isso representa. Vai se expor por 90 dias. Com o objetivo de desgastar o candidato à reeleição, a CPI corre o risco de desgastar ela própria a cada sessão espetaculosa. Por enquanto, a inquisição pouco santa já condenou a cloroquina. O articulista gaúcho Percival Puggina previu esta semana que a CPI vai inocentar o vírus.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895