Cais Mauá – agora vai?

Cais Mauá – agora vai?

Hoje sabe-se que, além da segurança, o chamado uso misto, com construções destinadas à moradia e outras para uso comercial, é o segredo para regiões com vida permanente – dia e noite

Guilherme Baumhardt

Consórcio deixou a área praticamente abandonada

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Há alguns anos, quando a cidade discutiu a possibilidade de construir prédios residenciais no Pontal do Estaleiro, um dos argumentos (se é que podemos chamar assim) ouvidos à época foi: “Eu jamais terei dinheiro para comprar um apartamento ali, então sou contra”. Desculpa rasa e pequena, de gente tola e mesquinha. Eu não tenho fôlego financeiro para comprar um apartamento em frente ao Central Park, em Nova York, ou uma cobertura com vista para a Torre Eiffel, em Paris, mas isso não tem peso algum na hora de decidir algo tão importante.

E o que interessa? A vida da cidade. Hoje sabe-se que, além da segurança, o chamado uso misto, com construções destinadas à moradia e outras para uso comercial, é o segredo para regiões com vida permanente – dia e noite. Esta, aliás, é uma das premissas do novo projeto apresentado para o Cais Mauá, nesta semana. Sim, moradias. Sim, às margens do Guaíba. E, não, não há problema algum nisso. A proposta prevê investimentos superiores a 1,3 bilhão de reais, em um período de 15 anos, com a remoção do Muro da Mauá e prédios corporativos, além dos residenciais já mencionados.

Os mais cautelosos podem puxar na memória todos os projetos e iniciativas que surgiram para o Cais Mauá ao longo das últimas décadas (sem exageros, já que o assunto se arrasta há cerca de trinta anos). Especialmente para estes, eu digo: há agora razões para acreditar. Já existe uma área em funcionamento e de inegável sucesso – o Cais Embarcadero, com operações gastronômicas exitosas. O Muro da Mauá, que deverá ser derrubado, ganhou vida nova e deu um novo colorido para a região central, até que a solução definitiva seja tomada.

Além disso, a revitalização do Centro é uma prioridade da atual Prefeitura de Porto Alegre. A cidade conquistou, inclusive, um empréstimo que beira a marca de um bilhão de reais para investimentos na área e, também, no chamado Quarto Distrito. Temos tudo para, finalmente, alavancar uma das regiões mais promissoras da cidade, há bastante tempo degradada, envelhecida e empobrecida.

Além de dinheiro, de bons projetos, de incentivar as boas propostas, o passo mais importante talvez seja o de dar a real importância para os grupos contrários, que já se apressaram e dispararam críticas à iniciativa. É a cantilena de sempre: “ocupar”, “socializar”, “debater”, “democratizar”. Um festival de baboseiras, que pretendem ser muita coisa e na verdade não passam de discurso oco. Para uma cidade que espera há tanto tempo por uma revitalização do Cais, o melhor a fazer agora é dar o peso certo para esta turma. E, neste momento, é pouco mais do que nada. E estou sendo generoso.

Novas...

A semana fecha com a informação de uma nova variante do coronavírus, identificada na África, com grau de transmissibilidade muito superior quando comparada com as cepas já conhecidas. Há um temor (natural) diante da notícia. Aprendemos bastante sobre Covid-19, mas ainda estamos distantes de sabermos “tudo” sobre o vírus e, principalmente, sobre o que está por vir. Ou seja, é natural que adotemos uma certa dose de cautela, mas dentro de uma racionalidade.

...variantes

Durante a pandemia enfrentamos dois inimigos: o vírus em si e o medo. Para alguns, foram administradas doses cavalares de pavor e pânico. Tenho a mais absoluta compreensão no caso daqueles que perderam alguém próximo, como um parente ou amigo. O que não se pode abandonar, porém, é a racionalidade. Como bem definiu um amigo médico, diante da notícia relatada acima: “Interessa pouco o número de novos casos, o que é importante agora é saber se teremos aumento de internações e mortes. Se isso não ocorrer, não há motivo algum para pânico. Além da proteção que a vacina pode oferecer, as pessoas estarão adquirindo a imunidade natural”. Aguardemos.

Medidas inócuas

Tão logo surgiu a informação da variante africana, já começaram a pipocar informações aqui e ali sobre restrições a voos e a passageiros oriundos do continente. Com quase dois anos de pandemia parece bastante claro que esse tipo de medida tem um efeito preventivo muito, muito limitado. É praticamente inevitável (para não dizer impossível) que as novas cepas acabem circulando pelo planeta. Uma nova variante é descoberta depois de contaminar algumas pessoas. Ou seja, ela já está circulando. Se ela já está circulando, não é trancando um voo que se conseguirá barrar a sua proliferação. Enquanto um avião fica em solo, o vírus muito provavelmente já está passando de organismo para organismo a alguns milhares de quilômetros dali.


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