Chamem o síndico

Chamem o síndico

Meu desejo é de que daqui alguns anos seja revertida uma percepção que hoje é predominante: a de que a cidade ficou para trás quando comparada a outras capitais

Guilherme Baumhardt

Segundo Melo, a taxação dos aplicativos de transporte não é uma opção

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Durante a semana, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, concedeu entrevista ao “Agora”, na Rádio Guaíba. Durante quase uma hora, discorreu sobre a cidade, projetos que devem ser encaminhados para a Câmara de Vereadores e as mudanças possíveis no curto, médio e longo prazos. Como todos, Melo tem virtudes e defeitos. Mas uma das suas principais características é a de conhecer Porto Alegre como poucos.

Melo pode ser o síndico que a cidade precisa. Conhece bairros, praças, ruas, avenidas. Como foi vereador, sabe quais assuntos já foram pauta no legislativo municipal, domina o que está trancado e – o principal – consegue identificar os atalhos para destravar aquilo que emperra o desenvolvimento da cidade. Já disse isso no ar, na Rádio Guaíba, e reforço aqui: a cidade está diante de uma oportunidade interessante, proporcionada pelos eleitores. Se Melo e o vice, Ricardo Gomes, utilizarem o que ambos têm de melhor em prol da cidade, Porto Alegre tem uma chance única de resolver seus problemas mais cotidianos, que vão desde as graves falhas no abastecimento de água e no sistema de transporte público, até coisas mais corriqueiras, como a poda de árvores e a manutenção de parques e praças da cidade.

Melo parece talhado para isso. Lembra e muito a figura de um síndico (dos bons), com os olhos e atenções voltadas para situações como as descritas acima. Se vai lograr êxito, só o tempo dirá. Enquanto isso, Ricardo Gomes – que vem do setor privado e tem formação na área empresarial – pode trabalhar em aspectos que projetem a cidade que queremos ter daqui 30, 40 ou 50 anos. Bem assessorado e com liberdade para tal, ele tem todas as ferramentas para desenvolver um novo ambiente de negócios, de uma capital mais receptiva e menos rançosa, voltada à inovação e ao empreendedorismo.

Torço para que a dupla esteja afinada e vaidades não se sobreponham aos interesses do município. Meu desejo é de que daqui alguns anos seja revertida uma percepção que hoje é predominante: a de que a cidade ficou para trás quando comparada a outras capitais. Espero que no médio prazo curitibanos e florianopolitanos tenham o sentimento que os porto-alegrenses hoje têm em relação às capitais de Paraná e Santa Catarina. Porto Alegre avançou em algumas áreas, comprou brigas necessárias (Nelson Marchezan Jr. teve importante papel nisso), mas estacionou em muitos aspectos. A boa notícia é que há espaço para recuperar o tempo perdido.

Estratégia

O início de qualquer mandato é o melhor momento para enviar os projetos mais indigestos ao legislativo. No caso de Porto Alegre, dois já estão definidos e certamente não terão tramitação fácil. Um deles é o que abre a concorrência no município para a contratação de serviços na área de tecnologia da informação, cortando uma espécie de monopólio da Procempa quando se trata de administração pública. A outra pedreira a ser enfrentada é a previdência municipal, assunto que poderia estar superado se tivesse sido incluído na reforma federal. Enquanto a idade mínima de aposentadoria para homens, por exemplo, no país é de 65 anos, em Porto Alegre ela ainda segue estacionada nos 60 anos para servidores municipais, justamente em uma das capitais com maior expectativa de vida no Brasil.
Câmara

O melhor candidato à Presidência da Câmara dos Deputados é Marcel Van Hattem (Novo-RS). Ele sobra diante dos demais. Infelizmente, o gaúcho corre por fora e tem remotas chances de sair vencedor. Caso o milagre não aconteça, o vencedor deve ser mesmo Arthur Lira (PP-AL), que vem do chamado centrão. Não é preciso dizer muito mais do que isso para termos um perfil do parlamentar. Se não é o nome dos sonhos, ao menos é o que neste momento alimenta a grande esperança de que sejam colocadas em votação, em 2021, as reformas administrativa e tributária.
Senado

No Senado, a disputa ficará entre Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS). O primeiro entra na disputa pelas mãos de Davi Alcolumbre (DEM-AP), uma das grandes decepções da política nacional. Eleito com a marca de encerrar uma espécie de hegemonia de Renan Calheiros (MDB-AL), acabou saindo pior que a encomenda e de renovação pouco ou nada trouxe. Se na Câmara o nome representa uma sinalização sobre as reformas, no Senado – que também precisará apreciar as duas matérias caso avancem – o foco de atenção é outro: um eventual processo de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal, uma atribuição exclusiva da chamada Câmara Alta.


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