Crueldade

Crueldade

os riscos que pais assumem ao não levarem os filhos para receber as doses contra a Covid-19

Guilherme Baumhardt

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O ponto de partida foi (adivinhem) a manifestação de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Ricardo Lewandowski recomendou aos Ministérios Públicos que tomem medidas para fiscalizar casos de crianças que não estejam vacinadas. E, aqui e ali, começaram a surgir ideias que ultrapassam a linha do absurdo, como tirar a guarda de pais e mães que não levarem os filhos para receber as doses contra a Covid-19.

Uma das primeiras manifestações neste sentido partiu do juiz Iberê Dias, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Perguntado por uma jornalista, durante entrevista, ele foi enfático ao dizer que havia a possibilidade de perda de guarda. E foi além: incentivou as pessoas a denunciarem crianças nesta situação. A fala causa náuseas. Nesta semana foi a vez do procurador-geral de Justiça, também de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, endossar a ideia. Absurdo? Gigantesco.

Cogitar a hipótese de arrancar uma criança do convívio do lar é de uma crueldade sem tamanho. A irracionalidade ganha proporções ainda maiores ao saber que em casos muito mais extremos (pais e mães viciados em drogas, por exemplo), a Justiça, por vezes, não acata pedidos semelhantes. E pais, mesmo usando substâncias ilícitas pesadas, colocando os filhos em risco, permanecem com a guarda das crianças. Agora, leitor, imagine o absurdo de um caso em que um pai e uma mãe mantêm a carteira de vacinação dos filhos orgulhosamente em dia, mas no caso específico das doses para Covid-19 decidem não vaciná-los, ou optam por esperar um pouco mais, para ter mais informações sobre riscos e benefícios, e perdem a guarda dos filhos.

Em um caso assim, chegaríamos ao nível da aberração. Se o leitor perguntar se eu acredito que isso acontecerá, eu diria que não. Uma mãe e um pai, especialmente nos casos em que há responsabilidade, amor e afeto, podem virar bichos (no melhor sentido) quando mexem com a sua prole. Estaríamos flertando com uma revolta civil, com uma desobediência social jamais vista.

Boa Notícia

A Anvisa deu o sinal verde. Faltava apenas a autorização do Ministério da Saúde, que saiu na tarde desta sexta-feira. Os pais de crianças e adolescentes têm uma opção a mais no caso da vacinação dos filhos. São três alternativas: não vacinar, aplicar as doses da Pfizer e, a partir de agora, também a Coronavac. Sim, o imunizante desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, no Brasil.

Menos Mal

Não, eu não esqueci das críticas que fiz à falta de informações mais claras sobre a Coronavac. Não esqueci do que escrevi, a respeito da baixa eficácia e se deveríamos continuar investindo na fabricação de uma vacina que era inferior às demais. Mas no caso de crianças, dois fatores novos surgiram (até aqui), e que são vantajosos. O primeiro: ao que tudo indica, a resposta imunológica no caso dos pequenos é melhor do que em adultos ou idosos. O segundo ponto: por usar uma técnica bastante conhecida (vírus inativado), eventuais reações adversas são mais raras e mais facilmente identificáveis, diferentemente do que ocorre com a tecnologia inovadora que utiliza RNA mensageiro - caso da vacina da Pfizer.

Ataque hacker (mais um)

O Banco Central confirmou o vazamento de 160 mil chaves PIX, utilizadas para transferências e pagamentos, que estavam sob responsabilidade do banco digital Acesso. É mais um episódio que se soma a outros ataques do tipo e invasões de sistemas que são (ou deveriam ser) tão seguros quanto os de uma instituição financeira. Foi o caso do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, do STJ e do STF. Ou seja, não há sistema inviolável. O que existem são dispositivos mais avançados e... sistemas de backup. Qual o backup do sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)? Como se isso não bastasse, dentro do TSE ganha força a ideia de barrar o Telegram em solo brasileiro, tudo porque o aplicativo (semelhante ao WhatsApp) ainda não tem uma base em solo brasileiro e conta com a simpatia do presidente Jair Bolsonaro e alguns dos seus apoiadores.


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