Divisor de águas

Divisor de águas

Eventos recentes envolvendo Israel, o Hamas, e a reação da esquerda no Brasil.

Guilherme Baumhardt

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O déspota russo Vladimir Lenin deixou um legado de tirania e um receituário do mal, com ensinamentos seguidos à risca até hoje pela esquerda: “Acuse-os do que você faz, chame-os do que você é”, era um deles. Durante anos, em manifestações em todo o mundo, a patota da esquerda tratou isso como um dogma, especialmente em debates nos quais a razão e a lógica eram jogadas no lixo, substituídas por uma narrativa falsa e que, por isso, não parava em pé. Bastava não concordar com os seguidores da seita que, da boca de um esquerdista, saía o chavão: “Seu nazista!”.

Por vezes a História nos apresenta episódios lamentáveis, mas que servem como oportunidade de separar, mais uma vez, o joio do trigo. A onda de violência produzida pelos terroristas do Hamas, com pronta resposta de Israel, é um deles. Ao que assistimos agora? Aqueles que durante anos usaram, abusaram e até vulgarizaram o nazismo, como crítica aos opositores, revelam-se, neste momento, na condição de verdadeiros nazistas. Estamos falando de gente que endossa o massacre de judeus – tal qual nos campos de concentração e extermínio, durante a Segunda Guerra.

Especialmente no Brasil, esta mesma turma se colocou na condição de “arauto da democracia”, os legítimos defensores da participação do povo nas decisões do país. Essa gente agora torce e comemora a cada novo ataque do Hamas e do Hezbollah como se fosse um gol, justamente contra o único país verdadeiramente democrático da região, com alternância de chefes, poderes constituídos e com pluralidade na representação legislativa – há congressistas palestinos, algo desconhecido por muitos, no parlamento israelense, uma bancada que não é inexpressiva, frise-se. Mas jornalistas, ativistas e políticos de esquerda fingem não enxergar a realidade.

Estamos falando de gente que grita “viva o Hamas!”, a plenos pulmões. Pessoas que fazem malabarismos para justificar atrocidades, como as vistas nos últimos dias, em que foram perpetrados ataques covardes. Famílias inteiras de civis assassinadas a sangue frio, dentro de casa. Mulheres estupradas, idosos sequestrados e, o ápice da crueldade e o fundo do poço moral: a decapitação de bebês indefesos. Dezenas deles. Pergunto: aqueles que não se sensibilizam com tamanha atrocidade e, pior, tentam justificá-la, são o quê, afinal? “Monstros” é a palavra mais leve que vem à mente.

Enquanto os celerados do Hamas avançam, com o apoio de outros grupos terroristas, o Brasil é cobrado por Israel e outras nações por uma posição firme no Conselho de Segurança da ONU. Esqueçam. O Brasil, hoje, é isso que está aí, recebendo de braços abertos e empregando em cargo público gente que apoia o terrorismo. Petistas sorridentes nas fotos ao lado de apoiadores da barbárie. E mais: endossamos a entrada no grupo dos Brics (países em desenvolvimento) nações – caso do Irã – que dão guarida a terroristas, que não respeitam mulheres e as chamadas minorias (atenção, patetas dos diretórios acadêmicos, a turma do “todes”, vocês não sabiam disso?).

Estamos diante, mais uma vez, de uma oportunidade ímpar de identificar valores ou a ausência deles. Sim, é justo e legítimo defender um Estado Palestino, autônomo e soberano. Aliás, esta é a realidade da maioria dos palestinos, que acabam sendo vítimas de movimentos terroristas como o Hamas, fenômeno muito parecido com o que ocorre nas favelas do Rio de Janeiro e comunidades carentes Brasil afora, áreas dominadas pelo tráfico de drogas ou milícias, em que a população local é subjugada.

Ao mundo islâmico que não coaduna com o terror, a minha solidariedade. E, também, uma cobrança: onde estão as manifestações de repúdio ao que fazem o Hamas e afins?

Durante um bom tempo e ainda hoje, o jornalismo brasileiro se encarregou de aliviar a tensão ao dizer que os grupos radicais produziam o terror com base em uma interpretação “deturpada” do Corão, o livro sagrado do islamismo. Se é assim mesmo, venham a público, com força, vontade e em grande número para dizer que não compactuam com o que vimos nos últimos dias.


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