Estratégia

Estratégia

Escrever sobre uma eleição com mais de um ano de antecedência e se atrever a projetar resultados é quase um pedido para quebrar a cara. Mas vou arriscar alguns cenários.

Guilherme Baumhardt

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Ainda falta muito para nosso reencontro com as urnas, em outubro de 2022. Não sabemos sequer o que teremos pela frente. Serão as tradicionais eletrônicas? Ou terão uma impressora acoplada? Voltaremos às urnas de lona? É cedo, muito cedo. Mas a campanha já começou. E ela passa por estados governados diretamente por interessados no Palácio do Planalto (João Doria Jr. e Eduardo Leite entre eles), até chegar na CPI da Covid e a verborragia ali instalada.

Já escrevi e reforço: o resultado do pleito presidencial estará diretamente ligado à economia. O brasileiro, se estiver empregado e com dinheiro no bolso, tende a manter quem está no poder. Foi assim nas reeleições de Fernando Henrique Cardoso (1998) e Lula (2006). No caso de Dilma Rousseff (2014), era o final da onda populista, já com sinais de recessão, mas ainda havia força suficiente para renovar o mandato dilmista. Com o bolso vazio, o eleitor busca alternativas. Foi o que ocorreu nas derrotas tucanas de Serra, (2002), e do petista Fernando Haddad (2018) – neste caso já com o vice, Michel Temer, na Presidência, após o impeachment de Dilma.

Escrever sobre uma eleição com mais de um ano de antecedência e se atrever a projetar resultados é quase um pedido para quebrar a cara. Mas vou arriscar alguns cenários. Se em abril ou maio de 2022 as pesquisas (refiro-me aos levantamentos sérios) indicarem uma vitória folgada de Jair Bolsonaro, não vejo Lula entrando no páreo para queimar seu capital político. Ele provavelmente escolherá um de seus “postes” para entrar na disputa e... provavelmente perder para o atual ocupante do Palácio do Planalto. Se a economia estiver em frangalhos, ele entra no jogo e com chances – acredite se quiser.

Dentre os apoiadores do atual presidente, sinto um otimismo que pode ser uma armadilha. Explico: sim, há chances reais de reeleição, mas o comportamento do presidente ainda é muito voltado para um público que já é dele. É praticamente impossível que surja um candidato mais à direita e com chances de abocanhar essa fatia do eleitorado. Ou seja: é hora de buscar consolidar aquele eleitor de “centro”, que votou em Bolsonaro em 2018, mas que em eleições passadas votou em FHC, Lula e Dilma. Ou seja, ele não é ideológico.

Se dividirmos o eleitorado em três partes iguais, a esquerda tem um quinhão cativo, Bolsonaro tem uma fatia fiel, e o terço restante é o que pode pender para um lado ou para o outro. Ciro Gomes (que não deve servir de referência para ninguém, pois já passou por um sem-fim de partidos) até agora seguiu à risca as orientações do marqueteiro João Santana, um sujeito que pode ter inúmeros assuntos pendentes com a Justiça, mas de eleição ele entende. O que vemos hoje é um Ciro que nada lembra aquela biruta de aeroporto, que uma hora aponta para um lado e, no minuto seguinte, aponta para o outro. Ele quer ser a terceira via. Até quando João Santana conseguirá manter Ciro neste figurino, não sabemos.

Então teremos novamente um cenário Bolsonaro X PT? As chances são grandes. Se a economia estiver de vento em popa, Bolsonaro pode levar no primeiro turno, como ocorreu com FHC, quando bateu Lula em 1994 e 1998. Mas se a pandemia persistir e o bolso do brasileiro não estiver recheado, com desemprego em alta, podemos ver, sim, pela primeira vez uma terceira via. E ela ganha força quando Bolsonaro fica permanentemente ligado no “modo patrola”. Imaginar que ele possa mudar radicalmente é ingenuidade. Mas um ajuste fino, com uma suavização na postura em alguns momentos e situações, precisa estar no cardápio se o atual presidente não quiser ser surpreendido por um outsider.

Diferentemente do que ocorre no Rio Grande do Sul, não há no Brasil uma tradição em eleger a “terceira via”. Ciro tentou isso em 1998 e 2002. E ficou pelo caminho. Aqui no Estado, vimos isso ocorrer com Germano Rigotto, em 2002; com Yeda Crusius, em 2006; e com José Ivo Sartori, em 2014. Todos eles arrancaram na disputa com índices baixos nas intenções de voto e... venceram. No Brasil, não há histórico recente neste sentido. Mas se Bolsonaro e seus apoiadores não enxergarem isso, a chance existe. Este cenário só não se consolidou porque falta muito para a disputa, o eleitor ainda não se debruçou sobre o assunto e, até agora, não apareceu no horizonte um nome que despontasse nas pesquisas. Quem mais se aproximou deste figurino até aqui foi Sergio Moro. A pergunta é: ele quer?


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