Justiça

Justiça

Críticas, aliás, que mantenho hoje.

Guilherme Baumhardt

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O jornalista Glenn Greenwald foi um dos protagonistas do episódio envolvendo a divulgação de conversas de integrantes da operação Lava Jato – entre eles o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. Na época, fiz inúmeras críticas ao tratamento dado ao material por um portal pretensamente investigativo. Críticas, aliás, que mantenho hoje. Por uma questão de justiça, preciso reconhecer e aplaudir a coragem de Greenwald agora. É uma das poucas e raras vozes no jornalismo a denunciar o cerceamento da liberdade de expressão, no Brasil. Neste aspecto, concordo com o que diz o norte-americano, por exemplo no recente episódio envolvendo (novamente) o jovem conhecido como Monark (ler próxima nota). Coragem que falta a muitos colegas da imprensa brasileira que, por conivência ou covardia, simplesmente silenciam diante da mordaça que vem sendo aplicada e de penas que extrapolam o bom senso.

Injustiça

Bruno Ayub, conhecido como Monark, era um dos integrantes do Flow, um dos canais mais conhecidos do YouTube. Recentemente abriu o próprio canal de vídeo nas redes. E foi em função disso, mais uma vez, alvo da fúria jurídica brasileira – se é que ainda existe alguma justiça no país. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, um inquérito foi instaurado e Monark foi multado em R$ 300 mil, com bloqueio de contas bancárias. A justificativa? O influencer criou novos perfis para reproduzir conteúdo com desinformação a respeito do processo eleitoral brasileiro, o que configuraria violação de decisão anterior do STF.

Banânia

Quem acompanha este espaço lembrará que o colunista, em reiteradas vezes, citou exemplos de nações verdadeiramente desenvolvidas e onde há Justiça (com J maiúsculo). São países em que ninguém sofre sanções por levantar dúvidas ou fazer críticas ao sistema, urnas ou qualquer coisa que o valha. Nos Estados Unidos, a última disputa presidencial foi parar na Suprema Corte e decisões regionais determinaram mudanças no método de votação. Na Alemanha, depois da suspeita de um pleito com vícios, decidiu-se pela realização de nova votação. Apenas aqui (e em ditaduras que já são conhecidas internacionalmente como ditaduras) é que há o risco de punição caso alguém, por exemplo, duvide da lisura de uma disputa. Aliás, fica a sensação de que nossas urnas eletrônicas se tornaram sacrossantas, intocáveis e inquestionáveis.

Os caranguejos...

Porto Alegre está ganhando uma nova área de lazer, renovada, com novos equipamentos e que não perderá sua essência. Refiro-me ao Parque Harmonia, que graças a uma Parceria Público-Privada passa por um profundo processo de transformação. O acampamento Farroupilha não foi esquecido. A vegetação (que existe ali somente por se tratar de uma área aterrada) foi, na sua maioria, preservada. Árvores que precisaram ser cortadas foram compensadas com replantio em outras regiões da cidade. Mas...

...contra-atacam

...estamos em Porto Alegre, uma cidade que não tem mangues, mas possui uma grande quantidade de caranguejos ruidosos, gente que faz questão de amarrar a cidade ao passado e ao atraso. Por decisão da Justiça, as obras de revitalização da área foram paradas, enquanto o bom senso foi atirado na lata do lixo. Isso ajuda a explicar por que cidades como Florianópolis e Curitiba, na região sul, caminharam a passos largos nos últimos anos, enquanto Porto Alegre parece procurar permanentemente pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo. Em momentos assim, deixamos de ser a capital dos gaúchos para vestir o manto de capital mundial do atraso.

Antes e depois

Algo parecido aconteceu na reformulação da Orla do Guaíba. Antes, uma área inutilizada pela população, que servia apenas para dar guarida a assaltantes e usuários de drogas. Hoje, um espaço vivo, mesmo à noite, com segurança, em que a população pratica exercícios e pode confraternizar às margens do Guaíba. Aqueles com boa memória lembrarão que, durante a revitalização, os caranguejos também atacaram, mas felizmente perderam a batalha. O Harmonia, quando os trabalhos forem retomados (e serão, tenho certeza), seguirá o mesmo caminho. Caranguejo bom é apenas aquele que apreciamos na beira da praia, de preferência em um dia de sol, acompanhado da família e amigos e, para quem gosta, com uma cerveja gelada.


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