O inabalável que não resiste a um sopro

O inabalável que não resiste a um sopro

Ou é burrice, ou estamos diante de gente mal-intencionada

Guilherme Baumhardt

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Gisele é caixa de supermercado. Todos os dias ela sai de casa, pega um ônibus e vai trabalhar. Durante sua jornada, ajuda a garantir que Carlos e Mariana, que passam no supermercado após o trabalho, levem para casa a comida que irá alimentar a família. Alexandre e Mariana trabalham no comércio, em uma rede varejista de abrangência nacional. Gisele, Alexandre e Mariana são personagens fictícios. Mas fazem parte da vida real no mundo pós pandemia. Se não for Gisele, será Fernanda. Se não for Carlos, será Michel. O fato é que nenhum deles, real ou fruto da imaginação, pode “ficar em casa”. Nenhum está dentro do chamado grupo de risco, considerado prioritário para receber a vacina contra o coronavírus. Mas isso pode, quem sabe, começar a mudar.

O Congresso deu mais um passo para que empresas privadas possam colocar seu capital na linha de frente com o objetivo de garantir vacinas para seus funcionários. Para cada dose comprada e destinada aos colaboradores, outra dose precisa ser doada ao Sistema Único de Saúde, para ser oferecida na rede pública. Não haverá concorrência. As negociações já efetivadas pelo governo com alguns dos fabricantes mundiais estão mantidas. O setor privado precisará buscar outros fornecedores, de outros laboratórios ou países. Alguém pode achar isso ruim?

Sim, no Brasil temos gente que pensa assim. É a turma do “quanto pior, melhor”. Talvez porque o avanço da vacinação escancare que alguns estão satisfeitos com o quadro atual. Gritam que a vacina é a única saída, mas quando uma nova porta se abre começam a espernear feito criança mimada que perdeu o pirulito. No lugar do pirulito, dias de “folga”, no aconchego do lar, com salário garantido e pingando na conta. Se as atuais barreiras forem vencidas e a imunização avançar graças ao setor privado, o discurso do “estamos preservando vidas” cai por terra.

Estamos falando, em essência, da turma que aponta o dedo e diz que o governo federal é incompetente. Mas segue cobrando do mesmo governo federal “incompetente” a compra das vacinas. Ou é burrice, ou estamos diante de gente mal-intencionada. Se você não confia no desempenho do Ministério da Saúde, pare de reclamar e busque outras alternativas, abra novas portas.
Imaginar que poderíamos estar mais avançados na vacinação não deixa de ser um atestado de ingenuidade, de quem caiu no conto do “Brasil Maravilha”, essa ilusão fabricada pelas gestões petistas – a de que viramos país grande e desenvolvido. Se Estados Unidos, Israel e Reino Unido estão na nossa frente, há explicações para isso. A começar pelo PIB. Por mais que alguns ilustres “especialistas” ignorem este fato, basta olhar para o ranking da imunização mundial. Quem está na frente são aqueles que são... ricos.

Temos mais uma vez a chance de mostrar que, livre de amarras, o setor privado é mais eficiente do que o setor público, como ocorre na maioria dos casos. O leitor não acredita? Dê uma olhada nos índices e compare a mortalidade em hospitais públicos e privados.

Além disso, barrar a vacina imaginando que “ricos vão furar a fila”, um argumento coletivista-socialista, é ignorar outro fenômeno, muito mais injusto. Um empresário com 65 anos de idade, com milhões na conta bancária, pelos critérios atuais, será vacinado antes do trabalhador de 60 anos que ainda atua em uma fábrica. Há justiça nisso? O primeiro pode pagar pela dose. O segundo depende do SUS. O primeiro receberá a vacina antes e tem condições de ficar em casa. O segundo precisa trabalhar para garantir o sustento. A entrada do setor privado pode mudar o cenário. A inabalável lógica socialista não resiste a um sopro de vida real.


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