Paz?

Paz?

Para alguns, Bolsonaro “fraquejou”, como ele mesmo volta e meia afirma. Para outros, ele simplesmente entregou a bola – ou a batata quente – para o Supremo.

Guilherme Baumhardt

Para o presidente, o placar com de 229 favoráveis e 218 contra são prova da desconfiança sobre o sistema

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Jair Bolsonaro, quem diria, foi o protagonista da distensão. Após reunião com o ex-presidente Michel Temer, veio um recuo e a sinalização para um período de trégua. A reação positiva dos mercados (bolsa de valores subindo, dólar em queda) traz agora a expectativa do que pode vir do outro lado da Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Fala-se em um acordo. Um acordo pressupõe a cedência não apenas de um lado, mas de todos os envolvidos. Do contrário, não é um acerto, mas uma capitulação. E é possível que o primeiro sinal já tenha sido dado. Em uma rede social, a esposa do jornalista Oswaldo Eustáquio, Sandra Terena, publicou mensagem afirmando que a prisão do marido havia sido revogada pelo ministro Alexandre de Moraes. A confirmar.

Fala-se agora nos próximos passos, desde o destravamento da sabatina de André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro para a cadeira de Marco Aurélio Mello, no STF, e que ainda não foi ouvido na Comissão de Constituição de Justiça, no Senado, até a extinção do chamado “inquérito do fim do mundo”, com a suspensão de prisões – entre outros, do ex-deputado Roberto Jefferson. A história recomenda cautela.

Em um primeiro momento, o sentimento entre os mais fervorosos apoiadores do presidente Bolsonaro foi de frustração. É compreensível. Dois dias antes da mensagem ao STF, uma multidão foi às ruas, em uma espécie de novo brado de independência e liberdade. Alimentava-se a expectativa de que os supremos aliviassem a carga. O que ocorreu foi justamente o contrário. Não apenas pelo conteúdo, mas principalmente pela forma, a “resposta suprema”, na voz de Luiz Fux, veio carregada.

Para alguns, Bolsonaro “fraquejou”, como ele mesmo volta e meia afirma. Para outros, ele simplesmente entregou a bola – ou a batata quente – para o Supremo. E, mesmo frustrando a expectativa de apoiadores, não deixou de causar surpresa. Ou você apostaria suas fichas em uma “sinalização diplomática” vinda do presidente? Logo dele, que parece estar permanentemente ligado no “modo patrola”. Ou seja, deixou muita gente em estado de choque.

Há duas leituras possíveis para os desdobramentos, principalmente após as manifestações do 7 de Setembro. Uma delas é a de que o movimento de Bolsonaro enfraqueceu toda e qualquer possibilidade de mobilização popular semelhante ao que vimos na última terça-feira. A outra aponta em direção oposta. Foi graças às manifestações – pacíficas, ordeiras e densas – que o presidente se deu ao luxo de enquadrar o Supremo. Algo na seguinte linha: “Vocês viram e ouviram as ruas e esta força é minha, não de vocês”.

Cabe, porém, uma ressalva importante. Tal qual o velho ditado gaudério – “cachorro picado por cobra tem medo de linguiça” – convém estarmos atentos. Um eventual freio neste momento no ímpeto de alguns ministros do STF não pode gerar amnésia. Assistimos a absurdos que não podem se repetir sob hipótese alguma. Todos vimos do que um Alexandre de Moraes é capaz, amparado por seus colegas de Supremo.

Encerrar o “inquérito do fim do mundo” é bom, mas não é garantia de que ali na frente, se a temperatura subir e a pressão aumentar, algo semelhante não possa surgir novamente. A novela não terminou.

Temer

Chama a atenção a força demonstrada pelo ex-presidente Michel Temer. Que ele sempre foi um habilidoso articulador político ninguém duvida. Mas é ex. E saiu em baixa, enfraquecido, mesmo após conquistas importantes, como a reforma da legislação trabalhista. Sem a força da caneta presidencial ou da cadeira de presidente da Câmara dos Deputados, Temer mostrou que ainda conhece os atalhos de Brasília.

Melo

Falando em habilidade política, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, vem imprimindo um ritmo acelerado na gestão da cidade. E a habilidade que muitas vezes faltou ao antecessor, Melo dá demonstrações que tem de sobra. Em pouco mais de oito meses de gestão, aprovou a reforma da previdência e a desestatização da Carris, além de revogar o aumento do IPTU. Se tirar o esqueletão do Centro, poderia ir para casa com o sentimento de missão cumprida. Brincadeiras de lado, obviamente Melo não fará isso, mas as mudanças feitas até aqui renderão frutos por anos a fio para a cidade.


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