Recados para o mundo

Recados para o mundo

De maneira sucinta, Bolsonaro desmanchou mitos criados em torno do seu nome e do governo brasileiro em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas

Guilherme Baumhardt

Presidente Jair Bolsonaro faz discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas

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Com uma fala centrada e até certo ponto calma (algo pouco comum em se tratando de Jair Bolsonaro), o presidente brasileiro deu um recado claro, firme e direto na Assembleia Geral das Nações Unidas. De maneira sucinta, desmanchou mitos criados em torno do seu nome e do governo brasileiro, mandou recados para mercados protecionistas globais e desceu o sarrafo em regimes ditatoriais. Se alguém esperava outra coisa, talvez não conheça Jair Bolsonaro.

Para quem é minimamente informado, não houve surpresa. Nenhum outro país do mundo mantém áreas de preservação nas dimensões brasileiras. Nenhuma outra nação do planeta, que tenha passado por um processo de colonização, mantém sob domínio exclusivo dos nativos (nossos índios) um percentual de terras como o Brasil. Se Bolsonaro não se vacinou (um erro, na avaliação deste colunista), isso não se traduziu na falta de doses para a população – quatro diferentes imunizantes são distribuídos, dois deles fabricados em solo brasileiro, e o índice de vacinação já supera o de alguns países desenvolvidos.

No certame internacional, depois do ocaso de Donald Trump, coube ao presidente brasileiro estabelecer marcos ideológicos e desfazer narrativas. Não faltaram críticas a ditaduras, como a da Venezuela. Era uma mensagem para o público interno, brasileiro, já de olho em 2022, mas também para fora.

Alguns imaginam que este recado deveria ser dado, por exemplo, pela Organização das Nações Unidas. A pandemia, além de bagunçar nossa vida e levar gente querida, serviu para mostrar que algumas entidades – que pareciam alicerces de uma civilização moderna – estão perdidas tal qual cusco em dia de mudança. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, é um capítulo à parte.

No caso da ONU, sobram textos e uma diplomacia de palavras bonitas, mas com efeito quase nulo sobre a vida do planeta. Mesmo o mais ingênuo dos cidadãos da Terra sabia que o radicalismo tomaria conta do Afeganistão, após o retorno do grupo talibã ao poder. Mas a ONU conseguiu ficar surpresa e espantada depois que o óbvio aconteceu: mulheres perderam direitos, homossexuais voltaram a ser perseguidos. Um filme que já vimos reiniciou.

A sensação que fica é de que na sede da entidade, em Nova York, diante das mais absurdas atrocidades cometidas mundo afora, entre uma nota de repúdio e outra de lamento, os burocratas da ONU apreciam boas doses de single malt, acompanhadas de bons charutos cubanos, admirando Manhattan pela janela. Ao final do dia, pensam: “missão cumprida”.

Se a ONU não se mexe, Bolsonaro dá o recado. “Afegãos cristãos, mulheres e crianças serão bem-vindos”. Em outras palavras, não queremos potenciais jihadistas em solo brasileiro. Se a ONU e outros países não movem um dedo para auxiliar uma população que não tem mais forças para lutar contra um regime de opressão, Bolsonaro foi claro: “Já recebemos 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana”.

Enquanto isso, parcela da nossa imprensa gasta energia para ficar escandalizada com o presidente que come pizza em uma calçada de Nova York, porque não foi autorizado a entrar em um restaurante – a falta da vacina cobra o seu preço. O que eles não esperavam era a vida real batendo à porta. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vacinado com duas doses, testou positivo para Covid-19. Para os defensores do famigerado passaporte sanitário – uma bandeira quase uníssona em setores da mídia – não poderia existir ironia maior. Pela lógica do passaporte (e dessa turma), o vacinado – mas “convidado” – Queiroga poderia frequentar restaurantes e outros espaços fechados, nos EUA. O não vacinado Jair Bolsonaro, mas “negativado” para Covid, seria obrigado a ficar de fora. Ou seja, um tabefe na lógica da turma que despreza a liberdade.


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