Um novo peremptório?

Um novo peremptório?

Promessa de Leite está próxima de ser quebrada

Guilherme Baumhardt

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Ao que tudo indica, a próxima semana reserva o anúncio oficial da candidatura de Eduardo Leite, ao Palácio Piratini. Não, você não está perdido no calendário. Estamos em junho de 2022, não em 2018. E não, você não foi acometido por uma crise de amnésia: Leite desde sempre se posicionou contrário ao instituto da reeleição. Pois é. O mundo dá voltas.

Os mais detalhistas – e que sonham em ver coerência onde na verdade há uma promessa não cumprida – poderão argumentar que não se trata de uma reeleição, já que Leite renunciou. Em tese, sim. Moralmente e eticamente, ninguém aqui é bobo ou palhaço. É, sim, uma quebra do que sempre disse o ex-governador – que agora quer virar governador novamente.

Se disputar novamente o governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite acabará se transformando numa espécie de Tarso Genro às avessas. O petista afirmou peremptoriamente que não renunciaria à prefeitura de Porto Alegre, durante a campanha de 2000. Um ano e quatro meses depois, pulou fora do Paço para entrar na corrida ao governo do Estado. E perdeu.

Leite sempre se posicionou contra a reeleição. Foi assim em Pelotas. Tinha um novo mandato garantido, mas deixou o caminho livre para a vice, Paula Mascarenhas. Agora, pelo visto, as coisas serão diferentes. Avariado em pleno voo rumo à disputa pelo Palácio do Planalto, parece ter encontrado uma espécie de refúgio na disputa pela cadeira que ocupou nos últimos três anos. Não é, porém, um nome a ser desprezado, sob hipótese alguma.

Dizer que Eduardo Leite não sabe o que quer da vida talvez seja um erro, um exagero. O problema é outro. Leite sabe muito bem o que quer. Pena que, pelos movimentos recentes, a impressão que passa é a de que por trás de tudo existe, na verdade, uma sede incomensurável pelo poder. É um combustível perigoso.

Se entrar na disputa e vencer, tudo bem. O problema é perder e virar uma espécie de cadáver político ou que, no mínimo, precisará trabalhar muito para reconquistar espaço. Ao fim e ao cabo, muitos eleitores talvez estejam se perguntando aquilo que meu avô diria: “Afinal, o que esse guri quer da vida?”.

Paulo Sarney Guedes

Em um evento recente o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um apelo a empresários, em especial do setor supermercadista: segurem os preços. Já há sinais de que a inflação perdeu apetite, mas ainda estamos longe da meta. Para alguém com formação liberal como Guedes, o pedido soa contraditório – afinal, o mercado deve se autorregular, com o mínimo de interferência externa. Sim, foi um apelo. Não, um decreto ou imposição, com congelamento e tabelamento de preços. Na turma que tem 45 anos ou mais, um flashback, relembrando José Sarney, talvez tenha provocado calafrios.

Recado pela metade

Arrisco dizer que o recado de Guedes era outro. Sabendo que eleições e economia andam juntas e de mãos dadas, a fala do ministro deveria ter sido mais ampla. Em tom de alerta, o recado é: eu venho aqui e faço um apelo, para que vocês deem sua parcela de contribuição no combate à inflação, mas a depender do resultado da eleição de outubro, o futuro pode reservar não um pedido, mas algo semelhante ao que acontece na Argentina, de Alberto Fernández, idolatrado pela esquerda brasileira. Em tempo: nossos hermanos já enfrentam desabastecimento há algum tempo, com a falta de produtos básicos.

Petroelétrica

Roberto Campos, um liberal, chamava a Petrobras de “Petrossauro”. A petrolífera que durante anos fez a festa de políticos, com indicações de apadrinhados e “aspones”, ainda tem um longo caminho a percorrer até a privatização. Já a “irmã” Eletrobras (ou Petroelétrica, com liberdade de plágio do colunista) deu um passo importante nesta semana rumo à desestatização. Uma fatia da empresa continuará sob controle da União – uma excrescência produzida pelo Congresso. Uma pena, mas melhor isso do que nada.

Mark ‘Ruffles’

Mark Ruffalo, um ator sofrível, resolveu fazer coro ao que diz parcela da classe artística nacional e alguns autointitulados intelectuais: Bolsonaro não respeita a democracia e representa o risco de um golpe. Temos três anos e meio do atual governo e se alguém ultrapassou a linha até aqui foi aquilo que um dia tivemos como Supremo Tribunal Federal – hoje um arremedo. Bolsonaro respondeu com bom humor, usando o nome de uma marca de batata frita no lugar do sobrenome: “Caro Mark Ruffles, acalme-se! Tenho certeza que você nunca leu a Constituição brasileira, mas posso assegurar que não tem a mesma complexidade dos roteiros e falas que você precisou decorar ao interpretar o Hulk: ‘AHGFRR’. Leia e você descobrirá que não apenas estou respeitando a Constituição, como também protegendo o Estado de Direito no Brasil”.


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