Um professor minúsculo

Um professor minúsculo

Professores deveriam promover o debate

Guilherme Baumhardt

publicidade

O caso não ganhou a merecida repercussão. Pudera. Com o trabalho feito hoje por parcela da imprensa brasileira, que esqueceu o bom jornalismo e virou especialista em “lacração”, é até compreensível. E, mais uma vez, não interessa o que foi dito, mas quem disse e de que lado está. Aos que não sabem, em uma escola de São Paulo, alunos assistiram a uma palestra da indígena Sônia Guajajara, que em 2018 foi candidata a vice-presidente na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSol), líder do MTST – aquele movimento bandoleiro cuja especialidade é invadir a propriedade alheia. Guajajara, para surpresa de ninguém, foi até lá para, entre outras coisas, descer o sarrafo no agronegócio brasileiro e defender as invasões do grupelho de Boulos.

Em determinado momento, um aluno resolveu fazer ponderações sobre a fala da índia socialista: “Eu acho que você se equivocou. Democracia é a alternância de governo. Você tirar o que é de alguém não é mudança de governo, é roubo de propriedade privada”. E foi além, lembrando que defensivos agrícolas mais modernos não chegam ao Brasil em função da atuação política da extrema-esquerda – que faz de tudo para travar a liberação de novos componentes e teima em chamar de “veneno” e “agrotóxico” aquilo que garante alimento a preços mais acessíveis, matando a fome de milhões de pessoas mundo afora.

O comentário do aluno despertou a ira do professor que ministrava a aula. O que veio a seguir foi um ataque de pelanca: “Quando você entender o que é ser uma pessoa deste tamanho, lembrará deste dia com muita vergonha. Então, a minha recomendação é a seguinte: respeite-me, porque sou doutor em antropologia. Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. Isso é ciência. No dia em que você quiser discutir conosco, traga seu diploma e sua opinião, fundamentada em ciência. Aí sim poderá discutir com um especialista em Harvard”.

Pelo visto o objetivo não era debater, mas promover um monólogo. E o argumento usado pelo professor é o não-argumento. No lugar de rebater com informações e dados o que foi dito pelo aluno, o sujeito resolveu apelar para a mais frágil das argumentações, que é o argumento da autoridade – algo não muito diferente do “você sabe com quem está falando?”, muito comum em repúblicas bananeiras.

O festival não para por aí. A tal especialidade em Harvard, “arrotada” como se fosse um diploma, na verdade não passa de um “certificado”, emitido por uma instituição paralela, que tem vinculação com a Universidade de Harvard. É algo relativamente comum nos Estados Unidos, a chancela de uma instituição de renome internacional a um parceiro que oferece cursos e especializações.

Mas não vamos parar por aí. A tal especialização que saiu da boca do valente com pompa e circunstância é um curso de seis meses e que custou algo em torno de 250 dólares (R$ 1,2 mil pelo câmbio atual). Jogue no Google “certificado en estudios afrolatinoamericanos”, entre na primeira página após a busca e logo depois clique em “inscrição”. Ao final você lerá, em espanhol, o que agora trago para o português, em tradução livre: “Este curso não gera créditos e nem se traduz na obtenção de título acadêmico pela Universidade de Harvard”.

O pito do professor no aluno ocorreu em uma escola chamada Avenues, que fica em uma das regiões mais caras de São Paulo. A mensalidade gira em torno de 10 mil reais por aluno. Se isso ocorre em uma instituição assim, não é difícil imaginar ao que estão submetidos alunos de instituições públicas, com profissionais (não chamo doutrinadores de professores) protegidos pela estabilidade de emprego.

Chega de deixar essa turma falando sozinha. Parabéns ao aluno.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895