A longa guerra perdida

A longa guerra perdida

O retorno do Talibã ao poder será um grande retrocesso

Jurandir Soares

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O 11 de setembro se tornou uma data marcante para os Estados Unidos pelos atentados de 2001. Desde então o país trava uma infindável guerra no Afeganistão. Pois este 11 de setembro de 2020 está assinalando que todo o esforço desenvolvido pelas tropas norte-americanas ao longo deste período naquele país da Ásia foram em vão. O objetivo da guerra fora caçar os terroristas da Al Qaeda e tirar do poder o nefasto regime do Talibã que lhes dava sustentação. O Talibã chegou a ser derrotado e um governo apoiado pelos Estados Unidos foi instalado. Este, porém, nunca conseguiu ter autonomia, porque os guerrilheiros depostos se rearticularam, passaram a praticar atentados nas mais diversas partes do país e não deixaram o governo e o povo em paz, apesar da intensa presença de tropas norte-americanas na região.

Pois, na sexta-feira, 11, representantes do governo afegão e do Talibã se reuniram em Doha, no Catar, para assinar um acordo. O qual vem na extensão de outro já firmado com os EUA, em julho, que prevê a retirada completa dos soldados americanos do país. O acordo com os Estados Unidos foi “saudado” pelo Talibã com uma série de atos terroristas nas províncias de Badakshan, Kunduz e Parwan, que mataram ao menos 25 integrantes das forças governamentais. Só para poder realizar o encontro do Catar, o governo afegão teve que libertar 4 mil prisioneiros talibãs. 

Diante dessa situação, fica fácil deduzir que, se com a maciça presença de soldados norte-americanos no país, o Talibã nunca parou de atuar, com a saída dessas tropas sua ação se tornará muito fácil. Doce ilusão acreditar que irá cumprir o acordo com o governo. O retorno do Talibã ao poder será um dos maiores retrocessos. Especialmente para as mulheres. O grupo governava sob os ditames da Sharia, a lei islâmica e as mulheres não podiam estudar nem trabalhar. Viviam metidas na burca e, quando seus maridos morriam nas constantes guerras e atos terroristas, tinham que esmolar para sustentar os filhos. A tragédia da mulher no Afeganistão é muito bem contada no livro de Nadia Ghulam “O Segredo de meu Turbante”. Ela tinha 11 anos quando sua casa foi atacada, morrendo o pai e um irmão de 8 anos. Cansada de vagar com a mãe, assumiu a identidade do irmão e passou a se portar como homem para poder trabalhar e ganhar o sustento para ambas. Depois de 10 anos nessa situação, conseguiu fugir para a Espanha e contar sua história, que é muito tocante.

E o que se observa agora é que a pouca liberdade que as mulheres haviam conquistado no Afeganistão com o afastamento do Talibã está prestes a terminar. Para os EUA, segundo o Departamento de Defesa, até janeiro último haviam morrido naquele país 2.216 de seus soldados e mais de 20 mil resultaram feridos. Ou seja, depois de tudo isto, o Talibã está prestes a retornar ao poder. 


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