A luta não é só contra o Hamas

A luta não é só contra o Hamas

Na medida em que se estende a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, tem-se falado seguidamente na expansão do conflito, com a participação de novos atores.

Jurandir Soares

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Já falamos do Hezbollah, que atua a partir do Líbano, dos Houthis, a partir do Iêmen, e agora chegamos à Resistência Islâmica do Iraque. Isto sem contar com outras organizações menores que atuam a partir da Síria. Então, o que temos? Primeiro, um enfrentamento com o Hamas, que já causou a morte de pelo menos 250 soldados israelenses, além de um custo diário para o país da ordem de 269 milhões de dólares, o equivalente a R$ 1,3 bilhão. Um valor que, segundo o Banco de Israel, pode chegar a 60 bilhões de dólares ou R$ 295 bilhões.

Neste mesmo confronto com o Hamas, embora todas as justificativas para o ataque ao grupo terrorista, Israel paga o preço da comoção mundial pelo elevado número de civis mortos em decorrência do conflito. Já são cerca de 25 mil mortos, enquanto a população daquele pequeno território tenta se deslocar de um lugar para outro, buscando escapar das bombas israelenses. Em meio ao caos local, despontam, além do medo da morte, a falta de alimentos e de medicamentos. Um assunto que está fazendo Israel bater de frente com um órgão da ONU, a UNRWA, a Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos, uma organização que luta para tornar menos dramática a situação dos palestinos. Israel a acusa de favorecimento ao Hamas na distribuição da ajuda humanitária. 

Enquanto lida com o Hamas a Sudoeste, Israel tem que enfrentar também o Hezbollah, no Norte de seu território. Grupo com o qual já travou uma guerra em 2006, que foi considerada sem um vencedor. Fato que demonstra o poderio bélico dessa organização que, como o Hamas, é sustentada basicamente pelo Irã. Aliás, a liderança do grupo se ufana em dizer que possui mais de 200 mil mísseis ou foguetes para atacar Israel. A situação naquela área está mais ou menos sob controle, porém exigiu de Israel o esvaziamento de várias cidades da região.

No decorrer da guerra surgiram os houthis, grupo que domina quase a metade do território do Iêmen, inclusive sua capital, Sana. Outro grupo apoiado pelo Irã e que luta contra o governo do Iêmen, que é apoiado pela Arábia Saudita. Pois este grupo conseguiu trazer as consequências da guerra a vários países que não têm nada a ver com o conflito. Isto em decorrência dos ataques que passaram a desenvolver no Mar Vermelho contra os navios mercantes que por ali passam. Fato que já fez diminuir em 40% a navegação naquela via, com o decorrente encarecimento dos produtos. A cada semana tem-se dois ou três episódios de ataque dos houthis a navios mercantes. E, segundo a organização terrorista, o objetivo será bloquear três importantes gargalos à navegação no Oriente Médio. Tanto que estabeleceram o que chamaram de Triângulo de Al-Aqsa, que visa bloquear as passagens pelo Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Mar Arábico e dali ao Índico, pelo Estreito de Bab el-Mandab, que liga o Golfo de Áden ao Mar Vermelho, separando a Península Arábica da África, e pelo Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, assim como ao Golfo de Ácaba. O objetivo é bloquear a chegada do petróleo a Israel. 

Neste sábado, 27, tivemos a entrada em cena de outro ator: a Resistência Islâmica do Iraque. Grupo que atacou uma base dos EUA no Iraque, matando três soldados e ferindo outros 25. O ataque foi com o artefato que agora pode ser usado por qualquer pessoa, por menor preparo que tenha: o drone. Este pequeno aparelho é manejado à distância, sem causar perigo para quem está operando, porém, podendo causar grandes estragos no local visado, como foi o caso da base americana. A Resistência Islâmica do Iraque, que reivindicou o ataque, é composta de várias facções armadas e apoiadas, como sempre, pelo Irã. O ataque foi justificado pelo fato de os Estados Unidos apoiarem Israel.

Então, vejam que a luta de Israel já não é mais somente contra o Hamas. E, embora as monarquias do Golfo, com exceção do Catar, tivessem avançado ou estavam avançando em acordos com Israel, deram para trás, não compactuando com o Hamas, mas se sentiram penalizadas pelas mortes de seus irmãos palestinos. A Arábia Saudita, que ainda não firmou acordo com Israel, está condicionando a sua realização a uma solução do problema. É duro ter que admitir, mas esta é uma questão que entrou num debate internacional devido à ação do Hamas. A ação pacífica do Fatah, grupo que dirige a Autoridade Palestina, não surtiu efeito até agora. O Hamas, da pior maneira possível, colocou o tema em destaque. Então, por mais que Israel tenha desencadeado sua ação, depois dos covardes ataques de 7 de outubro, para exterminar com o Hamas, isto não irá acontecer.

Morrem essas lideranças, mas, logo surgem outras. O ideário permanece. Assim, para não deixar a guerra envolver mais outros atores e se prolongar indefinidamente é preciso atacar o cerne da questão: o Estado da Palestina.

 


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