A surpresa coreana
O que se acreditava é que os golpes de Estado eram coisa do passado na Coreia do Sul, um país de democracia consolidada, mas a tentativa foi sufocada em poucas horas
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O mundo foi surpreendido nesta terça-feira pelo decreto do presidente da Coreia do Sul Yoon Suk Yeol, estabelecendo a Lei Marcial no país. Afinal, o que se acreditava é que os golpes de Estado eram coisa do passado no país. Felizmente, a tentativa foi logo abortada, pela pronta ação de 190 deputados, que forçaram sua entrada no Parlamento, e pela ação do povo, que saiu às ruas para protestar.
As justificativas para o presidente, que está com prestígio em baixa e sob acusação de corrupção, foram sem fundamento: “ameaça dos comunistas do norte e de elementos antiestatais”. Não deu outra, só podia ser objeto de pedido de impeachment, conforme foi feito na quarta-feira.
HISTÓRIA
A Coreia de antes da divisão tem um histórico conturbado de conflitos com o Japão e com a China. A disputa pela Coreia no final do Século XX é motivo de guerra entre Japão, China e Rússia. O Japão saiu vencedor e estabeleceu seu domínio, marcado por extrema brutalidade e tentativa de suprimir a língua e cultura do país.
Com a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Coreia é dividida em duas zonas de ocupação. Uma americana ao sul e outra soviética ao norte. As negociações para unificação falharam e foram constituídos dois Estados distintos, Coreia do Norte e Coreia do Sul. Em 25/06/1950, tropas da Coreia do Norte invadem o sul, iniciando-se uma guerra que se estendeu por três anos, terminando com um armistício, assinado em julho de 1953.
CAMINHOS
As duas Coreias seguiram caminhos distintos, a do norte sob o comunismo e a do sul sob o capitalismo. Ambos países pobres. Na Coreia do Sul dá-se uma sucessão de governos autoritários e de golpes de Estado, até meados da década de 1980.
Em 1990, o preside Roe Tae Woo surpreende os sul-coreanos ao anunciar a fusão de seu partido do governo com duas importantes organizações oposicionistas.
TRANSFORMAÇÃO
A partir daí começa a profunda transformação do país, impulsionada por algumas medidas tomadas anteriormente. Quando da proclamação da República da Coreia, em 1948, o país contava com uma renda per capita inferior a US$ 100. Após alterar a estratégia de crescimento, da industrialização por substituição de importações para a industrialização pesada voltada para fora, o país vivenciou um período de grande crescimento econômico.
Atualmente, ela é considerada um país desenvolvido. Sua renda per capita já supera US$ 14.000, o que a coloca entre as quinze maiores economias do mundo. Além de investir em educação, os sul-coreanos procuraram vislumbrar em que setores poderiam ser competitivos. Optaram pelo metalmecânica, investindo, inicialmente, em automóveis. Logo foram expandindo para outros setores e hoje o país é top em tecnologia de ponta.
PLANO
O lançamento do programa nacional de P&D, em 1982, foi um ponto de virada para a Coreia do Sul. O programa foi fundamental para transformar as capacidades de ciência e tecnologia do país, focando no desenvolvimento de novas tecnologias ao invés de melhorias incrementais.
Com grandes investimentos, o país se tornou uma referência nos segmentos de eletroeletrônicos e automóveis. Diante dessa evolução gradativa no cenário mundial no início do século XXI, a tecnologia de ponta utilizada na Coreia do Sul começou a dominar internacionalmente outros setores da indústria.
TELEVISÃO
O site Economia & Finanças, comandado pelo economista Paulo Gala, escreve o seguinte: “Reconhecendo que a TV HD seria um item de consumo da fronteira tecnológica da próxima geração com imenso potencial tecnológico e de mercado, o governo coreano estabeleceu o Comitê para Codesenvolvimento da TV HD em 1989, com a participação de dezessete instituições, incluindo empresas privadas, institutos públicos de pesquisa e universidades. No caso da indústria automobilística, em particular no caso da Hyundai, inicialmente o papel do governo foi fornecer proteção para essa nova empresa com tarifas altas de proteção (40% a 60%) durante os primeiros quinze anos.”
CAMINHO
Este, portanto, foi o caminho seguido por um país que era paupérrimo e hoje é uma potência. Assim como se tornou uma democracia consolidada, a ponto de uma tentativa de golpe ter sido sufocada em poucas horas. Agora, depois de decretar e recuar da Lei Marcial, Yoon Suk Yeol vai enfrentar um processo de impeachment.