O presidente Javier Milei está conseguindo diminuir os gastos governamentais e fazendo a inflação baixar na Argentina. Porém, isto está sendo conseguido a um custo muito alto para uma população que se acostumou a receber as benesses do Estado. E com Milei não só os programas assistencialistas praticamente acabaram, como muita gente perdeu o emprego, especialmente na área pública.
E o pior para Milei é que, mesmo com toda a contenção feita, a despesa estatal ainda é enorme. Tanto que se viu obrigado a ir a Washington nesta semana para pedir a interseção de seu amigo Donald Trump para um empréstimo de 20 bilhões de dólares junto ao Fundo Monetário Internacional.
DÍVIDA
O detalhe é que esse valor, se vier, será somente para o país dar uma respirada. A dívida da Argentina hoje é de 96 bilhões de dólares, sendo 44 bilhões somente para o FMI. Ou seja, o país vai aumentar a dívida, disponibilizando de um montante que serve para pouca coisa e ainda irá afundar-se em pagamentos de juros.
O curioso é que Trump condicionou sua ação pela liberação do dinheiro a uma vitória de Milei nas eleições do próximo dia 26 deste mês. Falou que libera o dinheiro se Milei ganhar. Se perder ele não vai “mandar dinheiro para socialistas,” como ressaltou. Falou como se fosse uma eleição presidencial em que Milei estivesse concorrendo. Não se deu conta de que serão eleições legislativas, para a renovação do Parlamento. As quais tem também a sua importância, pois, dependendo da composição da Casa, as reformas de Milei terão sequência ou serão eliminadas de vez. As pesquisas estão indicando empate técnico.
DIFERENÇAS
É preciso salientar que, mesmo com todas as mazelas, a Argentina tem uma camada de sua população com poder aquisitivo. Basta observar, por exemplo, o número de torcedores argentinos que esteve presente na Copa do Mundo do Catar. Ou mesmo aqueles que tem inundado as praias catarinenses ultimamente.
Mesmo assim, há um choro generalizado. Tudo costuma seguir a lógica do tango que, na maior parte das vezes, acaba em tragédia. Assim, há no país aqueles que estão sempre preparados para o pior, conforme, casualmente, é contado pelo jornal Clarin na sua edição desta quarta-feira. “Um colapso pode acontecer a qualquer momento,” diz o texto, salientando que é preciso estar preparado para o pior, segundo a premissa dos “preparacionistas.” Estas são pessoas que alinham uma catástrofe, um desastre ambiental, o estouro de uma guerra ou de uma crise social, e, até mesmo, um vírus que coloque em perigo a humanidade.
MOMENTO
O momento atual pelo qual passa a Argentina está longe de ser um “fim do mundo”, mas não deixa de ser altamente preocupante. Milei conseguiu diminuir a inflação para 2,1% em fevereiro, mas, ainda está em 31,8% nos últimos 12 meses. Apesar de já ter estado em 250% ao ano, o número ainda é muito alto. Para alcançar esses números, Milei decidiu paralisar obras federais, interromper o repasse para os estados e retirar subsídios às tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais. Isto implicou num aumento expressivo nos preços ao consumidor.
Em meio a isto, surgiu outra crise para Milei, com a denúncia de que sua irmã e braço direito, Karina Milei, estaria envolvida com cobrança de propina da indústria farmacêutica na compra de medicamentos para a rede pública. Em meio a essa denúncia, Milei sofreu amarga derrota nas eleições de setembro para a província de Buenos Aires.
CONDIÇÃO
Com o resultado, a moeda argentina atingiu seu menor valor histórico até então, cotada a 1.423 por dólar. O peso derreteu mais de 27% frente ao dólar. Um cenário também prejudicial para a inflação. E é só sob a condição de vencer as eleições legislativas do dia 26 próximo que ele poderá se habilitar à ajuda de Trump. Ou seja, na Argentina há sempre a espera pelo pior.
