Biden e o Brasil

Biden e o Brasil

Questões relacionadas às mudanças climáticas podem aproximar os dois países

Jurandir Soares

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu nesta semana um dossiê de 31 páginas recomendando a suspensão dos acordos com o Brasil enquanto Jair Bolsonaro for presidente. O texto é assinado por dez professores universitários e representantes das ONGs Greenpeace e Amazon Watch. O fato traz à tona a discussão sobre como se estabelecerá a relação do novo presidente norte-americano com o Brasil. Especialmente, porque durante a campanha eleitoral Biden fez ameaças ao Brasil em função dos incêndios na Amazônia.

Bem, campanha eleitoral é coisa, exercício de governo é outra. Biden sabe bem da importância do Brasil, tanto no contexto regional quanto nas suas relações econômicas com os EUA. No que toca à região, o presidente norte-americano já referendou a posição de seu antecessor Donald Trump com relação à Venezuela. Que é a mesma do Brasil. Ou seja, não reconhece legitimidade no governo ditatorial de Nicolás Maduro. No âmbito dos negócios, os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial, vindo atrás da China, com quem tem uma acirrada disputa, que vai da área econômica, passa pela de tecnologia 5G e chega até a parte bélica. E para reforçar a aliança, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou nesta quarta-feira que o Brasil será o parceiro chave no debate sobre questões climáticas que o país pretende liderar. Os EUA pretendem realizar a partir de 22 de abril uma cúpula sobre o clima. O encontro será uma reedição do fórum das grandes economias sobre energia e clima, lançado em 2009 no governo Barack Obama.

Segundo Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice e pesquisador sênior do Center for Strategic and International Studies (CSIS), sediado em Washington, “Trump via os Estados Unidos tão poderosos que pensava que o país devesse agir sozinho. Já Biden vê que o poder dos Estados Unidos está em trazer e angariar um corpo maior de aliados para tratar de determinados temas”. Biden tem uma visão multilateral do mundo. “Ele entende que o mundo se forma com alianças com as quais os Estados Unidos devem estar na liderança”, reforça. 

E nesta sexta-feira, após um encontro com o vice-presidente Hamilton Mourão, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, disse que a administração do presidente Joe Biden tem enfatizado questões relacionadas às mudanças climáticas e quer ser “bom parceiro” do Brasil na área. “O que é evidente é que vamos aumentar até o nosso interesse em trabalhar com o Brasil na área de mudança climática. Temos um novo representante presidencial, o secretário John Kerry, e temos muita atenção sobre esse tema e queremos trabalhar em conjunto com o Brasil sobre isso”, citou Chapman.

Então, o Brasil é um parceiro que não pode ser perdido. E ainda, conforme Aragão, mesmo que Bolsonaro e Biden não compartilhem da mesma visão de mundo, dificilmente haverá um atrito entre os países.


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