China apoia a Rússia

China apoia a Rússia

Com a informação de que tropas da Coreia do Norte estão em território russo para enfrentar a Ucrânia, deduz-se que a China, que sempre transmitiu neutralidade, está ajudando Moscou

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A notícia de que tropas da Coreia do Norte estão em território russo para lutar contra a Ucrânia remete a uma dedução: a China, que sempre transmitiu neutralidade, está ajudando a Rússia. Mas por que isto, se as tropas são da Coreia do Norte? Simplesmente porque a Coreia do Norte é tutelada pela China.

A presença de tropas da Coreia do Norte em terras russas foi denunciada pelos serviços de inteligência norte-americanos e confirmada por imagens de satélite tomadas pela Coreia do Sul. O Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul, NIS, segundo a Agência AFP, informou na quarta-feira que há hoje 3 mil soldados norte-coreanos na Rússia, mas este número chegará a 10 mil até dezembro. O fato se constitui numa escalada da guerra.

ATORES

A Rússia já estava se valendo da Belarus, cujo governo de Aleksandr Lukashenko é um aliado incondicional de Putin. Usou várias vezes o território da Belarus como base de apoio para suas ações na Ucrânia. Aliás, o único país da ex-União Soviética que ficou ao lado de Moscou. Porém, agora tem-se uma participação extraterritorial.

Este fato, além de por si só já ser um agravante, pode resultar no envolvimento na guerra de outro ator. Este seria a Coreia do Sul, que está muito preocupada com o armamentismo de seu vizinho do Norte. Aliás, algo que está preocupando também o Japão, pois são frequentes os casos de mísseis lançados pelos norte-coreanos que cruzam o território japonês e vão cair no mar.

RETOMADA

Segundo informações partidas de militares sul-coreanos, as tropas norte-coreanas estão sendo preparadas para atuar na região de Kursk, recentemente tomada pela Ucrânia. Isto estaria revelando outro fato. De que a Rússia não está em condições de afastar o inimigo de seu território e teve que apelar a um agente externo. Esta dificuldade russa, no entanto, pode se dever ao fato de ter concentrado suas tropas na região do Donbas, leste da Ucrânia, onde tem conseguido grandes avanços.

Quanto à ação em território russo das tropas da Coreia do Norte, temos dois fatores a salientar. Um, de parte do ditador Kim Jong-un, que manda suas tropas em troca de ajuda russa para tentar superar os graves problemas econômicos que seu país enfrenta. Afinal, o dinheiro que deveria ser empregado para combater a fome no país ele gasta na produção de sofisticados armamentos, inclusive mísseis que já têm capacidade de atingir o território dos Estados Unidos.

Segundo o NIS, a Rússia paga à Coreia do Norte o equivalente a 2 mil dólares mensais por cada soldado enviado. Não se pode esquecer que o regime de Pyongyang também é objeto de sanções econômicas impostas pelo Ocidente, devido a seu programa belicista.

ALIANÇA

O outro aspecto diz respeito à China, que não quer se complicar abrindo seu apoio à Rússia e decide então usar seu satélite para esta missão. Afinal, não se pode esquecer que em julho último o presidente Putin visitou Pequim, onde assinou com Xi Jinping um acordo que estabelecia “uma aliança inquebrantável” entre os dois países.

Já o presidente Putin tergiversou ao ser indagado sobre a presença dos soldados norte-coreanos em seu território. Mas deixou implícita a cooperação ao declarar que “o que faremos é assunto nosso”. Para Putin, o fato de a Ucrânia estar recebendo ajuda de Inteligência, armas e treinamento por parte do Ocidente lhe dá o direito a essa cooperação com os norte-coreanos. A diferença é que, até agora, nenhum militar da OTAN combateu ao lado da Ucrânia.

PROTAGONISMO

Putin recebeu nesta quinta-feira em Moscou o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, a quem fez uma revelação. “Antes da operação militar especial – leia-se guerra na Ucrânia – trabalhamos para melhorar as relações com o Ocidente, porém a Rússia estava sendo relegada à categoria de Estados cuja função é ser apêndice de matérias-primas, à custa de perda de sua soberania.” E acrescentou que a solução foi “aumentar nossa segurança e garantir nossa independência como Estado”. O que pode ser traduzido por sua ambição de restabelecer o domínio de Moscou sobre a área que compunha a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O detalhe é que a grande maioria desses países não quer voltar a ficar sob o tacão de Moscou.

E o resultado prático de tudo é a escalada que se tem na guerra, com as participações direta da Coreia do Norte e indireta da China.


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