Cruzada a linha vermelha

Cruzada a linha vermelha

Países ocidentais autorizam a Ucrânia a usar suas armas dentro do território russo

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A guerra agora é Ocidente contra a Rússia. Pelo menos este é entendimento de Moscou, devido à decisão dos países ocidentais de autorizarem a Ucrânia a usar suas armas dentro do território russo. O presidente Vladimir Putin já havia alertado que uma decisão dessa natureza representaria romper com uma linha vermelha que separa as forças ocidentais das equivalentes russas. Esta decisão do Ocidente é baseada num fato marcante, que o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, já havia deixado claro. Ou seja, que uma derrota da Ucrânia para a Rússia representaria uma derrota do Ocidente. E depois de 27 meses de guerra e de uma brava resistência ucraniana, os mais recentes acontecimentos mostram que esta resistência começa a fraquejar. A vitória russa começava a se desenhar. Daí a necessidade de uma mudança de rumo.

ETAPAS

Até aqui os países membros da OTAN vinham fornecendo os armamentos que a Ucrânia necessitava. Esta ajuda foi aumentando, com o fornecimento de equipamentos mais sofisticados, como os tanques Leopard II e os caças F-16. Ocorre que a Ucrânia iniciou em julho de 2023 o que se convencionou chamar de uma contraofensiva para expulsar as forças russas de seu território. Passados nove meses, a situação continuava praticamente a mesma. As forças ucranianas não deram um passo para a frente e as russas não deram para trás. As batalhas seguiram se desenvolvendo em torno de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana.

A Rússia passou a usar outro expediente: bombardeio com mísseis de cidades ucranianas. Com isto, ia fazendo a guerra se expandir por outras localidades. Esses mísseis são lançados a partir do território russo, cuja fronteira está a apenas 25 quilômetros de Kharkiv. Pelo que estava acordado com o Ocidente, as forças ucranianas tinham que aguardar o míssil cruzar a fronteira, para só então tentar abatê-lo. A Ucrânia queria autorização para agir na origem, ou seja, bombardear a base russa de onde partem os mísseis.

OFENSIVA

A ofensiva iniciada pela Rússia, a 10 de maio, ao norte da cidade de Kharkiv, colocou sobre a mesa a necessidade de a Ucrânia utilizar mísseis e artilharia da OTAN contra objetivos do outro lado da fronteira. E esse outro lado é a cidade russa de Belgorodo, separada de Kharkiv pela linha fronteiriça entre os dois países. Mas é ali que a Rússia concentra seus lançadores de mísseis e de drones, bem como sua aviação.

Tudo isto deixava para as autoridades ucranianas uma realidade bem clara da guerra. Não conseguiam, porém, convencer seus fornecedores de armas a autorizar o ataque. A partir de maio quando o cenário começou a mudar, com um pequeno avanço russo por terra, porém, com muitos estragos em múltiplas cidades feitos pelos mísseis, começou também a mudar a postura dos dirigentes ocidentais. O primeiro a manifestar abertamente a determinação de autorizar a Ucrânia a usar suas armas em território russo foi o presidente francês Emmanuel Macron. Que logo foi seguido do alemão Olaf Scholz. Os Estados Unidos não respaldaram a decisão. Até que na sexta-feira, 31, em uma roda de imprensa em Praga, o secretário de Estado Anthony Blinken anunciou a aprovação de seu país.

RESTRIÇÕES

As autorizações dadas pelo Ocidente, contudo, não são amplas e irrestritas. Os EUA, por exemplo, proibiram que seus mísseis de longo alcance ATACMS sejam utilizados em grandes distâncias, dentro do território russo. Já a Alemanha descartou o envio de mísseis de longo alcance Taurus, com a mesma justificativa. Enfim, ainda há alguns pruridos, buscando evitar que a Rússia considere que essas ações se caracterizem como ataques diretos do Ocidente contra seu território. Nunca esquecendo que permanece o temor de que Putin venha a fazer uso de armas nucleares, conforme vem ameaçando desde o início do conflito. Este continua sendo o grande temor do Ocidente. Porém, era preciso seguir nesse jogo arriscado, por entender que, se a Rússia derrotar a Ucrânia, não irá parar por aí. Daí a necessidade de cruzar essa linha vermelha.


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