Cuidado com as propostas europeias
É inquestionável que os indígenas devem ser preservados e devem ter suas reservas nativas.
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A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula van der Leyen, está no Brasil para desenvolver negociações entre as duas partes. É muito importante para o Brasil a parceria com os europeus. Porém, antes de sair da Europa, ela já antecipou aquele discurso manjado dos europeus de que os indígenas é que vão fazer o Brasil se tornar uma potência verde. “Só posso encorajar todos os atores institucionais no Brasil a trabalharem juntos para proteger a Amazônia, bem como as comunidades indígenas que vivem lá.” No fundo, o que os europeus querem é manter sua dita ajuda às comunidades indígenas, ajuda esta que vem através de ONGs que nada mais fazem do que explorar a biodiversidade da Amazônia, em atenção aos interesses das indústrias de cosméticos, de medicamentos e outras mais. Essa ação nefasta, além desses interesses, busca também evitar que o Brasil venha a explorar petróleo na Amazônia, como está tentando fazer, mas encontrando enormes barreiras pela frente. Porém, o interesse maior da Europa é impedir que o agronegócio brasileiro se expanda para a Amazônia. Afinal, o agronegócio brasileiro, que avança sobre o mundo, é a maior ameaça ao agronegócio europeu, o qual se mantém graças aos subsídios governamentais. Tudo isto é feito em nome da proteção da Amazônia, do meio ambiente.
É inquestionável que os indígenas devem ser preservados e devem ter suas reservas nativas. Porém, aqui no Brasil não serão os indígenas que irão desenvolver o agronegócio. Pelo contrário, eles são um entrave. Veja-se o que aconteceu em Raposa Serra do sol. Agricultores estavam ali, produzindo soja, arroz e outros produtos. Em Brasília entenderam que aquela era uma reserva indígena, expulsaram os agricultores e agora a área está jogada ao abandono. O fato é que aqui dentro do Brasil há muita gente com poder que, de maneira deliberada ou não, colabora com esses interesses escusos. Basta ver a questão do Marco Temporal. Querem mudar o que foi estabelecido pela Constituição de 1988, num evidente favorecimento ao índio e em prejuízo do agronegócio.
Esta questão ambiental é outro entrave para a formalização do acordo entre Mercosul e União Europeia. Para Ursula Von der Leyen: “É muito mais que um acordo comercial. Trata de valores compartilhados. É uma plataforma para enfrentar desafios comuns, como a ação climática e o respeito pelos direitos trabalhistas”. Como se observa, querem interferir até no cumprimento dos direitos trabalhistas, como se isto não acontecesse no país, com raríssimas exceções. Dentro de suas sutilezas, a União Europeia aprovou a proibição de importar produtos cuja cadeia envolva áreas desmatadas. Algo, logicamente, que é muito relativo. Tudo isto apesar do fato de que a União Europeia busca incrementar o comércio com o Brasil para depender menos da China. A experiência de depender de um regime autoritário não é boa para a Europa. Vide o caso da Rússia. De repente os europeus tiveram que buscar, com urgência, outros fornecedores de gás. E, pelo que diz a presidente da Comissão, conseguiram. “Fizemos as coisas certas. Diversificamos com fornecedores confiáveis, como a Noruega, e, mais importante, conseguimos reduzir a demanda de gás em quase 20%. Pela primeira vez, geramos eletricidade a partir do sol e do vento do que de gás e petróleo.” Claro que se trata de percentuais muito pequenos ainda, mas já é uma mudança.
Por fim, é preciso ressaltar o outro assunto de interesse de Von der Leyen em sua visita ao Brasil, que é buscar uma mudança de posicionamento do governo com relação à guerra na Ucrânia. As desastrosas manifestações de Lula a respeito do conflito deixaram os europeus entendendo que ele estava ao lado da Rússia. Daí o fato de estarem buscando um alinhamento do Brasil com o pensamento europeu sobre o conflito. Enfim, são múltiplos os assuntos, é muito importante uma parceria com a UE, mas é sempre importante ter cuidado com o que vem nos propor, especialmente no que toca à produção sustentável e quanto ao exagerado protagonismo dos índios na questão amazônica.