Dez anos de horror na Síria

Dez anos de horror na Síria

Jurandir Soares

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O mundo já foi sacudido múltiplas vezes por imagens vindas da Síria mostrando os horrores da guerra civil que lá está sendo travada. Sem contar a multiplicidade de prédios em ruínas, uma das imagens mais contundentes foi colhida pelo fotógrafo Mahmud Rslan mostrando o menino sírio Omran, de 5 anos, com o olhar no infinito e coberto de poeira e de sangue. Outra, da fotógrafa Nilüfer Demir, do menino Alan Kiurdi, de 3 anos, morto numa praia da Turquia. Nada, no entanto, foi suficiente até agora para conseguir colocar um fim a este conflito, que segue pródigo em atrocidades. Na última segunda-feira, 15, completaram-se 10 anos do início desse conflito que, segundo a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos, já deixou 380 mil mortos. Mas as estimativas são de que esse número ultrapasse os 600 mil. A Síria, antes da guerra, tinha uma população de 23 milhões de habitantes. Hoje, são 17 milhões. Tirando os mortos, os demais migraram para outros países.
O conflito na Síria começou em março de 2011, na esteira da Primavera Árabe que iniciara na Tunísia. As manifestações contra o governo sírio começaram na cidade de Deraa, no Sul, quando um grupo de pessoas se uniu para pedir a libertação de 14 estudantes de uma escola local. Os alunos haviam sido presos e supostamente torturados por terem escrito no mural do colégio o conhecido slogan dos levantes revolucionários na Tunísia e no Egito: “As pessoas querem a queda do regime”. O protesto reivindicava maior liberdade e democracia na Síria, mas não a renúncia do presidente Bashar Al-Assad. A manifestação, pacífica, foi brutalmente interrompida pelas forças do governo, que abriram fogo contra os opositores, matando quatro pessoas. No dia seguinte, em meio ao funeral das vítimas, o governo sírio fez uma nova investida contra os moradores de Deraa, causando a morte de mais uma pessoa. A reação desproporcional do governo acabou por impulsionar os protestos para além das fronteiras de Deraa. Iniciou-se um movimento rebelde com vistas então a derrubar o governo de Assad.
Os Estados Unidos e a Arábia Saudita se posicionaram ao lado dos rebeldes na luta para derrubar o regime de Bashar Al-Assad, enquanto a Rússia, com a parceria do Irã, deu seu respaldo ao ditador. Todos, no início, dando apenas apoio financeiro e em armamentos. Depois passaram a agir diretamente. Esta divisão levou a um sangrento e indefinido conflito. Nenhuma força conseguia superar a outra. O Estado Islâmico aproveitou-se dessa situação, assim como da fraqueza do governo iraquiano, para estabelecer o seu califado em terras da Síria e do Iraque. O Estado Islâmico chegou a ocupar uma terça parte dos territórios da Síria e do Iraque, tendo instalado sua capital na cidade síria de Raqqa. Dominou cidades importantes do Iraque, como Mossul, grande centro petrolífero. A situação só começou a mudar em 2015, quando a Rússia decidiu mandar suas forças para a Síria, passando a desenvolver uma luta aberta contra o EI. Com isto, os EUA também passaram a dar um maior apoio ao Iraque, especialmente aos curdos no Norte do país, no seu combate ao grupo terrorista. As duas cidades mencionadas foram recuperadas, assim como a maior parte dos territórios ocupados.
O conflito entre apoiadores de Assad e opositores diminuiu, mas não acabou. Segue em meio a um país destruído. Assad ainda está no governo, embora controle apenas cerca de 60% do território. E a situação trágica do país é refletida nas palavras do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres: “A Síria é um pesadelo onde metade das crianças do país nunca viveu um dia sem guerra e 60% dos sírios correm o risco de passar fome”. E o pior de tudo é que não se vislumbra um término para esse conflito.


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