Pouco mais de dois meses depois de ter recebido o presidente Vladimir Putin no Alasca, com tapete vermelho, o presidente Donald Trump subiu o tom nuclear diante das ameaças do russo. Isto porque, depois do memorável encontro, só tivemos retrocessos nas relações entre os dois países, especialmente no que toca à guerra na Ucrânia.
Trump tinha ilusão de que iria convencer Putin a colocar fim na guerra que trava desde fevereiro de 2022. Enganou-se. E só dois meses depois ele se deu conta e declarou que “Vladimir não quer ceder nada”. Pois enquanto Trump pensava em trégua, Putin avançava naquilo que vem ameaçando desde que começou a guerra: o uso de armas nucleares.
AMEAÇA
A ameaça maior partiu de Putin, nesta terça-feira, quando anunciou que suas forças armadas conduziram um teste bem sucedido do foguete Poseidon, conhecido como o “torpedo do final do juízo” por suas características apocalípticas. Ressaltando que o mesmo poderia percorrer 14 mil quilômetros, ou seja, que poderia chegar até qualquer ponto dos Estados Unidos. Trump, primeiro, retrucou com uma dose de ironia, dizendo que esta questão de distância que atinge não tem importância, pois o seu país tem submarinos, equipados com armas atômicas, perto do território russo.
Posteriormente, Trump foi mais incisivo dizendo: “Devido aos programas de testes nucleares de outros países, instruí o Departamento de Guerra a começar a testar nossas armas nucleares em igualdade de condições”.
RETROCESSO
Esta situação nos remete ao período da Guerra Fria e do chamado “Equilíbrio do Terror,” ou seja, logo após a Segunda Guerra, quando o mundo se dividiu entre o Oriente comunista, liderado pela então União Soviética, e o Ocidente capitalista, sob o comando dos EUA. Período em que houve um incremento na produção nuclear, envolvendo não só as potências como EUA, URSS e China, mas também países da segunda linha como Índia e Paquistão, que criaram suas bombas atômicas.
Esta escalada levou a um momento crítico, com o mundo todo ficando, durante duas semanas, sob a ameaça de uma guerra nuclear. Era 1962 e de 16 a 28 de outubro se desenvolveu o que passou a ser chamado de “a crise dos mísseis em Cuba”. O episódio, que foi televisionado para todo o mundo, foi o mais próximo a que se chegou de uma guerra nuclear.
ESPIÃO
Tudo começou com a fracassada tentativa americana de invadir Cuba, na operação Baía dos Porcos, em 1961, e a presença de mísseis balísticos norte-americanos na Itália e na Turquia. Secretamente, Moscou decidiu colocar mísseis em Cuba, ou seja, a apenas 145 quilômetros do território da Flórida. Os preparativos para tal foram descobertos quando um avião espião da Força Aérea americana sobrevoou o território cubano.
Na ocasião, os EUA eram presididos por John Kennedy e a URSS comandada por Nikita Kruschev. Os Estados Unidos estabeleceram um bloqueio para impedir que os navios soviéticos chegassem a Cuba e exigiram que todos os mísseis lá instalados fossem retirados. Estava estabelecida a tensão mundial, sob o espectro de uma guerra nuclear.
ALÍVIO
Depois de duas semanas de tensão e muita negociação foi anunciado um acordo. Os soviéticos desmantelaram suas armas e as levaram de volta, sob a promessa explícita dos EUA de nunca mais invadir Cuba. O que não ficou explícito, mas, que depois foi constatado, foi a retirada dos mísseis americanos da Itália e da Turquia. O bloqueio naval foi formalmente encerrado em 20 de novembro de 1962, quando foi constatada a retirada de todos os mísseis soviéticos do território cubano.
A partir dali passaram a se estabelecer vários acordos entre EUA e URSS, com vistas à redução na produção de mísseis. O que, no entanto, não evitou que ambas as potências ainda ficassem com estoques capazes de explodir o mundo várias vezes. Foi então que se convencionou que o mundo passava a viver sob o “equilíbrio do terror”.
MUDANÇA
O fim da União Soviética, em 1991, promoveu um alívio mundial na ameaça nuclear. O que se manteve até Vladimir Putin iniciar sua aventura na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Desde então passou a falar no uso de armas atômicas, o que fez com que Trump, agora, também decidisse não só falar, como acenar com testes nucleares, o que não é realizado há mais de 30 anos. Ou seja, o mundo volta a presenciar uma subida de tom naquilo que se espera que nunca aconteça, uma guerra atômica.
