Guerra cibernética

Guerra cibernética

Novo tipo de guerra chegou ao Oriente Médio, levada, ao que evidências mostram, por Israel, embora o país não tenha admitido

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Um novo tipo de guerra, a cibernética, chegou ao Oriente Médio, levada, ao que todas as evidências mostram, por Israel, embora o país não tenha admitido. A surpresa com o ocorrido foi grande por dois aspectos. Um deles, pelo inusitado do fato. Israel mostrou a sua alta capacidade tecnológica para introduzir este novo tipo de arma para o combate aos seus inimigos regionais. O outro, o fato de nos trazer à lembrança um dispositivo que há muito nem ouvíamos falar, o pager ou bip, como era mais conhecido por aqui, onde foi muito utilizado nos anos 1980 e 1990.

Mas o que fez mesmo o tema tomar a primeira página dos jornais mundo afora foi a introdução da modalidade de guerra cibernética. Israel fez jus a sua fama de ser um dos países mais avançados do mundo em termos de tecnologia de ponta. E usou esta inteligência para golpear fundo o inimigo, em ações que começaram na terça-feira, 17, e se estenderam pela quarta-feira, 18, abrangendo uma área que teve seu foco no Líbano, mas que se estendeu até a Síria. E que, das explosões iniciais de pagers, ampliou-se para walkie-talkies. Todos aparelhos usados por integrantes da facção Hezbollah.

ORIGEM

O ataque cibernético mostrou a capacidade de Israel de ativar dispositivos explosivos a longa distância. O que não chega a ser algo mais impactante hoje, quando se usa esta tecnologia com os drones. Mas o que desperta a maior indagação, e que até agora não teve uma resposta concreta, é como o material explosivo foi colocado dentro dos pagers. Sabe-se que cada aparelho recebeu uma carga de 50 gramas de um tipo de explosivo. Mas em que momento houve esta colocação.

A primeira indagação pairou sobre a empresa taiwanesa Gold Apollo, para a qual os integrantes do Hezbollah teriam feito a encomenda dos pagers. Esta logo informou que, sob sua licença, os aparelhos foram produzidos na Hungria por uma empresa chamada BAC. Teria sido ali na fabricação que o material explosivo fora colocado? Não parece lógico, porque a empresa ficaria marcada como produtora, não de um aparelho de comunicação, mas de um sistema bélico.

PERCURSO

Também ficou patente que, com esse material explosivo, foi colocado um sistema para ser acionado a distância. No entanto, segue a dúvida sobre quem e onde foi colocado. Há a informação, não confirmada, de que o transporte dos aparelhos da Hungria para o Líbano teve uma parada na Jordânia. Aí faria sentido. A Jordânia se constitui no segundo país árabe a firmar um acordo de paz com Israel, mantendo com este uma sólida relação. E trata-se de uma monarquia que quer distância dos movimentos terroristas islâmicos. Aliás, os céus da Jordânia foram cenário da explosão de mísseis iranianos lançados contra Israel em abril. Com a utilização dos sistemas Patriot fornecidos pelos Estados Unidos. Mas aí mais uma indagação: iria a Jordânia provocar a ira do Hezbollah contra ela?

Mesmo assim, outra interrogação. Se os agentes de inteligência de Israel teriam se valido dessa parada na Jordânia para colocar o material explosivo nos pagers encomendados pelo Hezbollah. Há também a especulação de que agentes do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, teriam se infiltrado junto ao Hezbollah para fazer a tal operação. O que parece mais fora de propósito. Embora não se possa duvidar nada dos serviços secretos israelenses.

AUMENTO

Diante de tudo isto ficam duas colocações. Uma, como, com sua tão avançada inteligência, Israel deixou acontecer a invasão do Hamas de 7 de outubro do ano passado? Até agora ninguém conseguiu explicar o ocorrido, tampouco a demora da reação de Israel, que teria sido de cerca de cinco horas.

A outra colocação diz respeito ao avanço da guerra. As explosões dos pagers vitimaram não só integrantes do Hezbollah, mas também civis, dentre os mortos e feridos, muitos destes mutilados. Isto dará novo impulso à guerra, e os ataques do Hezbollah a cidades do norte de Israel, que têm sido esporádicos, deverão se intensificar. Há a informação de que o Hezbollah dispõe de 200 mil mísseis. O que significa que, na sequência, poderemos ver uma invasão do Líbano pelas forças israelenses. Numa guerra que não será somente cibernética, mas de altas proporções.


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