Israel se isola

Israel se isola

Israel precisa se dar conta de que, do universo de 193 países integrantes da ONU, 142 já manifestaram seu apoio à criação do Estado da Palestina

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Mais de sete meses depois de Israel iniciar a guerra em Gaza, com a finalidade, salientada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de exterminar com o Hamas, a organização terrorista palestina mostra que segue viva e com poder de fogo, a ponto de voltar a lançar foguetes contra Tel Aviv, centro financeiro do país, como fez neste domingo, 26. Ao mesmo tempo, manifestantes israelenses tomaram as ruas dessa cidade, assim como de Jerusalém, para protestar contra Netanyahu, pela falta de uma solução para libertação dos reféns. Soma-se ainda o fato de Netanyahu estar batendo de frente com dirigentes de países importantes que manifestaram apoio à criação do Estado da Palestina, como Espanha, Irlanda e Noruega. Além de estar batendo com a própria União Europeia.

CONFRONTOS

Israel divulgou um vídeo que mescla danças de flamenco com imagens do ataque do Hamas de 7 de outubro e com a mensagem: “Sánchez, o Hamas agradece teus serviços”. A referência era ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que também foi acusado de antissemita. E veio mais: a afirmação de que os tempos da Inquisição já passaram e que agora os judeus não precisam mais se transformar em cristãos, porque eles têm um Estado próprio. Paralelamente, o Consulado da Espanha em Jerusalém foi proibido de prestar serviços consulares aos palestinos da Cisjordânia. O ministro de Relações Exteriores, Israel Katz, deixou claro que “são medidas preliminares” e acusou os dirigentes espanhóis de grave incitação antissemita e contra a existência de Israel.

REAÇÃO

Em uma entrevista para a televisão pública espanhola, na sexta-feira, 24, o ministro de Assuntos Exteriores e Política de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, disse celebrar a decisão de reconhecer o Estado da Palestina, anunciada por Espanha, Irlanda e Noruega. No entanto, no mesmo programa, o chanceler europeu lamentou a reação de Israel à notícia. Segundo o diplomata catalão, as autoridades do governo sionista de Benjamin Netanyahu se equivocam ao tentar rotular como “antissemitas” todos os que divergem da política israelense. “Infelizmente, sempre que alguém toma a decisão de apoiar a construção de um Estado palestino, algo que todos na Europa apoiam, a reação de Israel é transformá-lo num ataque antissemita”, disse Borrell. Em outro momento, o diplomata aprofundou suas impressões sobre a incapacidade israelense de lidar com as divergências. “Israel tem que aceitar ser criticado. Uma coisa é criticar o governo de Netanyahu, que é um governo democraticamente eleito, mas que pode ser criticado como qualquer governo do mundo, e outra coisa é adotar posições antissemitas ou anti-Israel”, frisou.

PERCEPÇÃO

É justamente esta percepção que parece estar faltando aos dirigentes israelenses. Não estão indagando por que cresceu tanto o apoio ao Estado Palestino, justamente após os atos terroristas do Hamas, que foram condenados por todo o mundo. Pois Israel não está dimensionando as proporções de sua reação após o 7 de outubro. Uma reação que já deixou, segundo números da agência de refugiados da ONU, mais de 35 mil palestinos mortos na Faixa de Gaza. É claro que dentre os mortos há um elevado número de integrantes do Hamas. Sejam dirigentes ou militantes. Porém, há um número muito maior de civis. Mulheres, crianças, velhos. Imagens que chocam o mundo, mas que, ao que parece, não causam nenhum incômodo aos dirigentes israelenses.

Israel precisa se dar conta de que, do universo de 193 países integrantes da ONU, 142 já manifestaram seu apoio à criação do Estado da Palestina. E a grande maioria destes países, senão a totalidade, não quer ver o Hamas pilotando este novo Estado. Esta é uma tarefa que tem que ser entregue a forças palestinas moderadas, como o Fatah, estabelecido na Cisjordânia e que comanda a Autoridade Palestina. O Hamas tem que ser sufocado com o apoio dos países árabes, que não compactuam com sua filosofia. Afinal, Hamas e Irã são a mesma coisa e nem os árabes nem Israel os suportam. Ao se negar a partir para este entendimento, Israel só dá mais força ao radicalismo na região. E o pior é que não se vislumbra dentro do Estado judeu nenhuma liderança que possa mudar este quadro.


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