Mapa irreal de Netanyahu
O líder israelense está apresentando uma situação que nunca levará à paz na região
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Ao ocupar a tribuna das Nações Unidas nesta sexta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou dois mapas. Um com “A Maldição”, o eixo de países aliados ao Irã, pintado de preto, e outro com “A Bênção”, aliança entre Israel e países árabes da região, colorido de verde, a cor da esperança. Um pequeno detalhe mostra a inviabilidade dessa colocação de Netanyahu em levar a paz à região: em seu mapa de Israel os territórios palestinos não surgem autônomos, e sim como parte do Estado judeu. Ou seja, o líder israelense está apresentando uma situação que nunca levará à paz na região. Enquanto o povo palestino continuar subjugado por Israel os conflitos continuarão. E pior, por mais que Israel tente, não conseguirá exterminar as organizações radicais que levam o terror ao seu território. Ao contrário, estas só se fortalecerão, em detrimento de outras que querem a paz e a convivência pacífica entre judeus e palestinos como o Fatah, que controla a Cisjordânia.
OPÇÃO
Netanyahu instou nações a escolher lados. “Qual a opção do seu país? Ficar com Israel, que defende seus valores, ou com quem quer destruir o seu modo de vida?”, questionou. Esquece que há nações como Estados Unidos, o maior aliado e fornecedor de ajuda a Israel, que defendem a constituição do Estado da Palestina, justo naquelas áreas que Netanyahu pintou como sendo propriedade de Israel. Enquanto Israel não atentar para a solução do problema palestino, através de um diálogo com quem quer a paz e reconhece a existência do próprio Estado de Israel, só estará alimentando as organizações extremistas fomentadas pelo Irã.
Exemplo maior disto foi o fortalecimento do Hamas, a ponto de chegar a cometer o massacre ocorrido a 7 de outubro do ano passado. Fato que obrigou Israel a desenvolver uma justificada guerra contra o terror, mas que escorregou para um massacre da população civil de Gaza, com os números apontando cerca de 40 mil mortos. E, na extensão do apoio ao Hamas, passaram a atacar Israel outras organizações terroristas como a Jihad Islâmica, desde Gaza, o Hezbollah, desde o Líbano, os Houthis, desde o Iêmen, e, nesta semana, somou-se ainda a Resistência Islâmica, desde o Iraque. Israel viu-se obrigado a estender a guerra ao Hezbollah, com os mesmos custos.
ANTISSEMITISMO
Netanyahu foi especialmente duro com a ONU, sugerindo antissemitismo no fato de que Israel foi condenado 147 vezes pelo Conselho de Segurança da entidade em sua história, ante 73 censuras a outros países. “Essa ONU, casa da escuridão, um pântano de bile antissemita”, afirmou. Ele não faz uma reflexão sobre o porquê dessas condenações. Todas sempre tiveram a ver com o não cumprimento por parte de Israel de resoluções da própria ONU no que toca à questão palestina.
Hoje, os palestinos da Cisjordânia vivem sob uma ocupação militar da maior parte de seu território por Israel. Seus jovens sentem-se cidadãos de segunda classe, sem perspectiva de futuro. Assistem atônitos ao acelerado crescimento de assentamentos judaicos em seu território, também em flagrante confrontação com ditames da ONU. Ou seja, situação que enfraquece o pacifista Fatah e torna-se um prato cheio para os radicais do Hamas. Hoje, 109 países já manifestaram o seu reconhecimento ao Estado da Palestina, que conseguiu o status de Estado Associado da organização.
ACORDOS
Netanyahu acenou para a Arábia Saudita para juntar-se aos Acordos de Abrahão, mediados pelo ex-presidente Donald Trump e que levaram a tratados de paz entre Israel e Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. O príncipe saudita Mohammed Bin Salman já declarou que seu país participará dos acordos, mas condicionou essa participação a uma solução para o problema palestino.
E aí fica a consideração final para Netanyahu. O que é melhor: continuar lutando contra as organizações radicais e expondo a população israelense ao terror e execrando a imagem de Israel no exterior, ou trazer o Fatah para uma mesa de negociações, buscando um acordo amplo, que comprometesse todos os participantes dos Acordos de Abrahão, com o estabelecimento de dois estados, com fronteiras definidas e seguras. Ou seja, ampliaria a proteção do próprio Israel, porque todos estes estados têm um inimigo em comum: o Irã.