Mudança de rumo

Mudança de rumo

Novo direcionamento do governo americano aponta desafios internos e externos

Jurandir Soares

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Os primeiros decretos assinados por Joe Biden nesta quinta-feira já demonstram a mudança de rumo do novo governo dos Estados Unidos. Volta ao acordo de Paris sobre o clima, volta à Organização Mundial da Saúde, paralisação das obras de construção de muro na fronteira com o México, fim da política de imigração que separou crianças de seus pais e outras questões mais que foram implantadas por Donald Trump e que agora são revogadas por Joe Biden. Pode-se acrescentar e ressaltar a nova forma de combate à pandemia do coronavírus. O marco mais significativo dessa medida é o uso da máscara e manutenção do distanciamento social, duas coisas que Trump abominava. Tanto que durante a campanha fez comícios para multidões que se aglomeravam.

Mas Biden tem os desafios internos e externos. Internamente, além da questão da saúde, está a da economia. A qual vinha muito bem ao tempo de Trump até chegar a pandemia. O país estava crescendo a cerca de 4% ao ano, e o desemprego estava também em 4%, o que é considerado pleno emprego. Aliás, não houvesse a pandemia dificilmente Biden estaria hoje sentado à mesa presidencial no Salão Oval da Casa Branca. Trump teria vencido tranquilamente. A pandemia acentuou os desmandos de Trump que os bons números da economia encobriam. E o resultado da eleição revelou ainda um Trump antidemocrático. Retomar o crescimento da economia é o grande desafio para Biden, num momento em que setores vitais, como turismo, artes, produção industrial e outros, estão prejudicados. E esse crescimento da economia terá que passar pela preservação ambiental, o que será um desafio maior. Aliás, um dos primeiros decretos assinados por Biden foi a revogação da licença para o controverso oleoduto Keystone XL. Suspenso pelo governo Barack Obama, mas liberado por Donald Trump, o Keystone XL seria construído entre Alberta, no Canadá, e as refinarias do estado americano de Nebraska. Símbolo da queda de braço entre ambientalistas e a política de Trump.

A suspensão dessa obra está no contexto dos ditames do acordo sobre o clima e do ambicioso e quase utópico projeto dos democratas de fazer com que até 2050 os EUA não dependam mais de energia fóssil. Esta mudança de conduta em Washington passa também por uma reaproximação com os parceiros da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte que Trump havia deixado de lado. A Europa se ressentiu de um maior apoio americano num momento em que a Rússia de Vladimir Putin começou a estender seus tentáculos pela região. Ajudar a conter o impetuoso líder russo será uma das tarefas do novo mandatário da maior potência do mundo. Porém, para manter essa condição de maior potência, o grande desafio de Biden é a China de Xi Jinping, que se expande de forma impetuosa por Ásia, Europa e África. Trump demonstrou força diante da China, mas sua guerra comercial se, por um lado, protegeu certos setores produtivos dos EUA, por outro, prejudicou outros como o da soja, por exemplo, que viu suas exportações para a China caírem em 90%. Biden dá sinais de que irá tratar a China com diplomacia. O que pode ser bom, mas não poderá deixar de mostrar que os Estados Unidos ainda possuem o maior arsenal bélico do mundo. Porque, do jeito que as coisas andam, se vacilar, será engolido pelo dragão chinês.


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