A concessão do Prêmio Nobel da Paz para a dissidente política venezuelana María Corina Machado é um golpe na ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. Ela é a maior contestadora do regime, foi impedida de concorrer à presidência do país e, mesmo assim, indicou um candidato, Edmundo González, e liderou a campanha que o levou à vitória nas eleições presidenciais de outubro de 2023.
E a vitória foi comprovada pelas atas das mesas eleitorais, que apontaram o esmagador triunfo de González. No entanto, a Comissão Eleitoral, nomeada pelo chavismo, deu a vitória a Maduro, sem nunca ter apresentado as atas de votação. O resultado foi contestado até por alguns dirigentes de esquerda da América Latina. Lembrando que o governo brasileiro nem contestou nem aprovou o resultado.
PERSEGUIÇÃO
Como se não bastasse ter cassado os direitos políticos de María Corina, o regime ainda desenvolveu uma perseguição a ela, na intenção de colocá-la na cadeia. Tanto é assim que ela teve que se esconder e hoje vive na clandestinidade. Aliás, perseguição a opositores tem sido uma constante do sistema, que conseguiu acabar com as manifestações contra o governo com o uso de milícias populares que armou.
Sempre que ocorria uma manifestação apareciam esses milicianos de moto, atirando contra a multidão. O mais recente episódio ocorreu em 11 de agosto de 2024, quando dos protestos contra o resultado da eleição em que o Conselho Eleitoral deu a vitória a Maduro. Na ocasião, morreram 25 pessoas e 192 resultaram feridas.
SISTEMA
Então, este é o sistema que María Corina Machado corajosamente tem enfrentado. E foi por sua coragem e determinação que o Comitê do Nobel lhe deu o prêmio. Em sua decisão de conceder o Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado, o Comitê Nobel disse que a líder da oposição venezuelana trabalha “incansavelmente” pela democracia e atende aos três requisitos para o prêmio estabelecidos pelo próprio Alfred Nobel. “Machado demonstrou que as ferramentas da democracia também são ferramentas da paz. Ela personifica a esperança por um futuro diferente, no qual os direitos fundamentais dos cidadãos sejam respeitados e suas vozes ouvidas”, afirmou o Comitê.
Por um lado, Machado “uniu a oposição de seu país”, afirmou o Comitê em seu comunicado. Em segundo lugar, de acordo com o Comitê Nobel, Machado “nunca desistiu de sua resistência à militarização da sociedade venezuelana”. Por fim, o Comitê concluiu que Machado foi “consistente em seu apoio a uma transição democrática”.
TRUMP
Ironicamente, o presidente americano, Donald Trump, que era quem mais ambicionava ganhar o Nobel da Paz, é quem poderá ajudar a colocar em prática a derrubada do regime de Maduro. Afinal, ele mantém uma frota da Marinha americana estacionada na costa da Venezuela, em nome da caça aos narcotraficantes. E com a explícita declaração de que Maduro comanda uma grande rede de traficantes.
Quanto a este comando não se tem provas, mas se tem muitas acusações e evidências de um conluio na Venezuela entre governo, o sistema militar e narcotraficantes. Por enquanto, as ações da Marinha americana têm sido contra pequenos barcos que têm sido abatidos sumariamente. A curiosidade que fica é sobre a possibilidade de uma ação direta contra o território venezuelano.
FUTURO
Quanto a Donald Trump, ele ficou frustrado em não ser o vencedor do Nobel da Paz deste ano. Porém, ele tem a possibilidade de conquistá-lo no próximo ano, se for adiante com as ações que vem desenvolvendo no Oriente Médio. Ficou clara a pressão que exerceu sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para aceitar o término da guerra em Gaza. Assim como a exigência que fez ao líder israelense para que se desculpasse junto ao emir do Catar pelo ataque àquele país.
Trump demonstrou que tem poder. Agora, fica muito claro que só poderá conquistar o prêmio se usar este poder e associar-se aos mais de 150 países que já se manifestaram na ONU pelo reconhecimento do Estado Palestino.
