O Brexit e o Reino (des)Unido

O Brexit e o Reino (des)Unido

Jurandir Soares

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Desde este dia 1º de janeiro não há mais livre circulação de pessoas e mercadorias entre o Reino Unido e a União Euroeia. Entrou em vigor o Brexit, processo que estabeleceu não só uma separação dos britânicos do restante da Europa, como também um racha entre os próprios súditos da rainha. Manifestação maior partiu da primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, a qual afirmou que o seu país estará em breve de volta à Europa e manifestou a disposição de realizar um novo plebiscito sobre a separação do Reino Unido. Vale lembrar que dos países que formam o Reino Unido, a Escócia foi o que mais se opôs à ruptura com a UE no referendo que aprovou o Brexit em 2016: 62% dos escoceses votaram contra o divórcio.

Ocorre que o Brexit pautou por uma série de erros desde o seu início. A começar pelo fato de que o então primeiro-ministro David Cameron resolveu colocar o tema em votação popular apenas para fazer proselitismo, pois estava convicto que haveria uma votação maciça pela permanência na União Europeia, aliás, conforme aconteceu em Londres, a megalopole onde estão os grandes negócios e as grandes interações com a Europa. Não contava com o conservadorismo do interior, cuja preocupação maior era com a entrada de estrangeiros no país. Nem tampouco contava com um contingente de parlamentares que se deixou contaminar pelo nacionalismo exacerbado que ressurgiu em alguns cantos da Europa.

Há que considerar ainda que uma boa parte das pessoas que votaram pela saída da União Europeia ou que não participaram da votação, foi se dar conta dos prejuízos só depois da votação. Foi quando perceberam que não poderiam mais circular e trabalhar livremente em qualquer um dos 27 países integrantes da Comunidade. De que grandes empresas europeias iriam retirar suas instalações de Londres e transferi-las para outros países. Que a Escócia, que votou pelo “sim”, poderia ver crescer o movimento separatista. E que a única fronteira terrestre com a UE, que é entre a Irlanda do Norte e a república da Irlanda, seria fechada, podendo fazer ressurgir ali o movimento separatista que visa anexar a Irlanda do Norte à república da Irlanda. Um movimento responsável pela violência que por anos a fio envolveu católicos e protestantes, com inúmeros atentados de lado a lado, especialmente, os  praticados pelo IRA, o Exército Republicano irlandês. E cuja paz foi conseguida com duros sacrifícios e graças aos preceitos integracionistas da União Europeia.

Segundo pesquisa de novembro de Instituto Ipsos Moris, 56% dos escoceses se manifestaram pela separação do Reino que parece já não estar muito Unido, até porque, na própria Inglaterra 48% queriam a permanência na União Europeia. Tiveram que engolir a decisão e não conseguiram a realização de um novo plebiscito, cujos indicativos apontavam uma reversão na decisão. Seja como for, desafios que o primeiro ministro Boris Johnson terá pela frente para evitar um racha maior na comunidade britânica.


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