O debate caótico e o Brasil

O debate caótico e o Brasil

Trump e Biden protagonizaram um episódio deprimente que manchou a democracia da maior potência do mundo

Jurandir Soares

Primeiro debate ocorreu na noite desta terça-feira

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O presidente Donald Trump e o seu oponente às eleições presidenciais de 3 de novembro nos EUA, Joe Biden, protagonizaram nesta terça-feira um episódio deprimente, que manchou a democracia da maior potência do mundo. E justamente, boa parte desse mundo assistiu dois debatedores falando ao mesmo tempo, se agredindo mutuamente, gerando um espetáculo ininteligível, que se tornava ainda pior quando o mediador tinha que intervir, pois daí eram três falando ao mesmo tempo. Pobres dos tradutores, que tiveram a ingrata tarefa de traduzir aquela gritaria. Ideias, que é o que deve resultar de um debate, nada.

Nós aqui temos nos queixado dos nossos debates, por eles estarem muito “quadrados”. Mas, aqui há tempo limitado para a explanação, para a réplica e para a tréplica. Ninguém fala em cima do que o outro está falando. O nosso problema é o excesso de candidatos, porque a TV é obrigada a colocar todos os postulantes num mesmo debate. Essa situação só se torna melhor num segundo turno, quando ficam apenas dois candidatos.

Nos EUA há mais dois debates programados. No entanto, não se sabe se serão realizados, tendo em vista que o presidente Donald Trump anunciou ter sido diagnosticado com Covid-19. Aqui, na última eleição, o debate entre os candidatos do segundo turno acabou não sendo realizado porque Bolsonaro levou uma facada. Lá pode acontecer o mesmo pela infecção de Trump. Este fato, infecção, tem um lado positivo e outro negativo para Trump. O positivo é que sempre surge um certo sentimento de pena de quem está enfermo, o que pode atrair voto de algum indeciso. O negativo, e que Joe Biden deve explorar, é o fato de Trump ter feito pouco caso para a doença, a ponto de em raras vezes aparecer de máscara. Agora, tornou-se vítima dela. Todavia, se um debate ainda vir a ser realizado, seguramente, que terá que ser sob novas regras.

Resta ainda uma palavra no que toca ao Brasil, pois Biden aproveitou a proximidade de Trump com Bolsonaro para denunciar a destruição da floresta amazônica. Disse que, se eleito, dará dinheiro ao Brasil para combater as queimadas, porém, se não resolver, aplicará sanções. A candidata a vice Kamala Harris também já havia feito críticas ao governo brasileiro por causa da Amazônia, o que faz com que a chapa democrata seja considerada a mais crítica ao Brasil na história das relações entre os dois países. O que não se pode esquecer, no entanto, é que estamos num processo eleitoral. E isto faz parte da estratégia de pegar o eleitor voltado para as questões ambientais. Uma vez no poder, a situação muda. E como nos disse nesta semana, em entrevista ao programa Bom Dia da Rádio Guaíba, o embaixador Nestor Forster Júnior, é bom que haja uma convergência entre chefes de Estado como agora, “mas nossas relações não dependem disso, pois são fundamentadas em valores compartilhados pelos dois países”. Enfim, tudo isto só faz gerar mais expectativa para eleição norte-americana, cujo resultado, é preciso salientar, poderá acabar sendo decidido na Suprema Corte. 


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