Jurandir Soares

O fim da Otan

As ações do presidente Trump acarretam mudanças na Europa e na Otan

A mobilização do presidente Donald Trump no que toca à guerra na Ucrânia revelou uma nova realidade para a Europa. Os Estados Unidos, historicamente, têm sido o protetor da Europa, por ter a maior força militar do mundo. E têm estado ao lado dos europeus em todas suas iniciativas. Tudo com base em decisões conjuntas. Inclusive no que foi acertado três anos atrás entre o então presidente Joe Biden e os governantes europeus, no que tocou ao respaldo à Ucrânia, na sua tentativa de expulsar o invasor russo de seu território.

Bastou Trump assumir o poder na Casa Branca para a situação mudar. Passou a tomar decisões diretamente com o presidente russo, Vladimir Putin, sem consultar a Europa ou a Ucrânia. E o pior, sua primeira proposta para o fim da guerra representava uma rendição da Ucrânia.

MUDANÇA

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, chegou a ser chamado por Trump de “ditador sem eleição”. Diante da realidade e de sua inferioridade, Zelensky acabou concordando em ir a Washington nesta sexta-feira, para assinar com Trump um acordo de exploração pelos EUA de minerais ucranianos. Nesses estão incluídas as chamadas Terras Raras, que se constituem num agrupamento de 17 tipos de minérios, em que se inclui o Lítio, usado para baterias de automóveis, celulares e computadores.

Esta cessão que faz parte da partilha da Ucrânia que, aparentemente, Trump acertou com Putin. Ou seja, Putin fica com a parte leste que já dominou e os EUA exploram o restante do território. Curioso é que o convívio entre Trump e Putin está tão amistoso que a exploração dos minérios poderá ser realizada, inclusive, nas áreas dominadas pela Rússia.

PEDIDO

De sua parte, também enfraquecida, a Europa se resignou a pedir a Trump que não deixe a Ucrânia de fora de uma negociação de paz com a Rússia. E também que dê respaldo a uma possível força de paz europeia para dar proteção à Ucrânia após o fim da guerra. Trump já havia assegurado a presença dessa força, porém, nesta terça-feira, o porta-voz do Kremlin negou que Putin houvesse concordado com isto.

APELO

Diante desta realidade, a Europa ainda fez um gesto de submissão a Trump, dizendo que vai aumentar os percentuais do PIB destinados à Otan, conforme o americano vinha exigindo, desde o seu primeiro mandato. Porém, ao mesmo tempo, os europeus passaram a tratar de se defender sozinhos, diante da realidade de que a Otan, nos moldes em que foi criada, já não se sustenta mais.

E, diferentemente de Donald Trump, os europeus temem Vladimir Putin, que já deixou explícitas suas pretensões de refazer a Grande Rússia. Assim é que Reino Unido e Alemanha já decidiram elevar de 2% para 2,5% seu percentual do PIB para a defesa. A Polônia, que faz fronteira com a Ucrânia e teme ser a próxima vítima, já passou para 5% o seu percentual.

BARREIRA

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defende a ativação da chamada cláusula de escape, para que os países possam se endividar para atender projetos de defesa, sem deixar de cumprir o Pacto de Estabilidade. Mas cogita também abrir uma segunda via, com a criação de “instrumento europeu” que poderia se alimentar de várias formas. O que pretendem é mostrar para Washington que a Europa está comprometida com sua própria segurança.

O presidente do Conselho Europeu, Antônio Costa, convocou os líderes dos 27 países membros do bloco para uma videoconferência a fim de ouvir uma explanação do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a conversa que teve com Trump. Já o presidente polonês, Donald Tusk, decidiu ir a Londres, para também saber das palavras do próprio primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, como foi o seu encontro com Trump na Casa Branca. Ficando tudo para ser decidido numa reunião de cúpula da União Europeia.

Tudo isto para ser analisado nessa reunião a ser realizada no dia 6 em Bruxelas. Um encontro onde predominará uma certeza: a Aliança Atlântica está fazendo água.