O Hamas está vencendo

O Hamas está vencendo

Ele não está interessado nem na paz nem num estado palestino.

Jurandir Soares

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Reafirmo o que já disse na coluna publicada a 19 de outubro: o retrocesso que está acontecendo no Oriente Médio, com extensões pelo mundo, se constitui, pelo menos até aqui, numa vitória dos terroristas do Hamas. E aproveito para citar o que escreveu em artigo publicado no Estado de São Paulo, neste fim de semana, o destacado escritor israelense Yuval Harari, autor entre tantas obras do best seller “Sapiens”. Ele diz que o vencedor de uma guerra “não é lado que matar mais pessoas, nem o lado que destruir mais residências, nem mesmo o lado que ganhar mais apoio internacional – mas o lado que alcançar seus objetivos políticos”. E os objetivos políticos do Hamas ficaram escancarados: fazer fracassar os acordos de Israel com os países árabes, cuja mais recente e importante etapa seria a assinatura com a Arábia Saudita. Um acordo que deveria contemplar a criação do estado da Palestina, com uma cooperação entre os investidores sauditas e os detentores de tecnologia de Israel, para fazer a região se desenvolver, com possibilidades de se transformar num novo Vale do Silício. E, por extensão, imperando a cooperação e a paz.

Para o Hamas isto não interessa. Ele não está interessado nem na paz nem num estado palestino. Aliás, é preciso ressaltar que o grupo terrorista não representa os palestinos. O utópico objetivo do grupo é exterminar Israel e criar um estado fundamentalista islâmico. Por isto não lhe interessa a paz na região. E por isto usa os palestinos de Gaza como seus escudos, sem se importar com suas mortes. E Israel está colaborando para as pretensões do Hamas ao bombardear indiscriminadamente Gaza, com as consequentes elevadas mortes de civis. É certo que não dá para comparar com o que o Hamas fez em Israel. Aquela ação foi de uma crueldade terrível. Com esfaqueamento, degola, explosões de granadas em bunkers, sequestro de pessoas e tantas outras atrocidades. Israel faz bombardeios na caça aos terroristas. Só que ali estão 2,2 milhões de civis palestinos que pagam o preço de serem reféns do Hamas. E este preço passa a ser a morte de crianças, mulheres e idosos, decorrência dos bombardeios israelenses. Ou seja, não é mesma tática dos terroristas, mas, igualmente, provoca a morte de gente inocente. Não sou especialista em táticas militares, mas suponho que Israel, com a tecnologia que tem, poderia concentrar suas ações nos túneis onde os terroristas se abrigam, numa estratégia que não atingisse a população civil como esta está sendo atingida.

Com esta reação desproporcional, Israel impulsiona os interesses do Hamas, porque boa parte da opinião pública internacional começa a se voltar contra ele. Já começa na Cisjordânia, onde predomina a moderação e onde está estabelecida a Autoridade Nacional Palestina. Mas é também nessa área designada pela ONU como destinada ao estado palestino que Israel vem implantando colônias judaicas. A tensão tornou inevitável o choque. Enfrentamentos com exército israelense naquela área levaram à morte de palestinos, o que acabou fomentando um até há pouco impensável apoio ao Hamas. E os protestos anti-Israel se estenderam pelo mundo árabe e por capitais europeias como Londres, Paris etc. e chegaram até o Japão. E neste aspecto volto mais uma vez ao texto de Harari quando diz: “Por mais de uma década, governos israelenses liderados por Netanyahu abandonaram todas as tentativas sérias de estabelecer paz com forças palestinas mais moderadas, adotaram políticas cada vez mais beligerantes a respeito da ocupação de território em disputa e até aceitaram ideias messiânicas da direita sobre supremacia judaica.” Acrescente-se ainda que, nos últimos tempos, Netanyahu estava mais preocupado era com a reforma que tirava poderes do Judiciário em favor do Parlamento, fato que dividiu o país.

Diante de todos estes acontecimentos, o que se tem agora é um tremendo retrocesso na busca pela paz, com o consequente ganho político do Hamas. O que, evidentemente, torna mais difícil o extermínio da organização terrorista. Algo que é fundamental ser alcançado para que esta não prossiga nos seus objetivos e atos insanos.


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