Os confrontos de Biden

Os confrontos de Biden

Presidente americano enfrenta questões delicadas com líderes do Japão e da Rússia

Jurandir Soares

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O russo Vladimir Putin, o chinês Xi Jinping, o processo democrático e a inflação fizeram parte da agenda do presidente norte-americano, Joe Biden, esta semana. Em uma de suas ações, Biden convocou uma reunião virtual com o seu colega russo para cobrar a respeito das intenções do mesmo sobre a Ucrânia. Afinal, Moscou concentrou mais de 100 mil soldados junto à fronteira ucraniana, dando a impressão de uma invasão iminente. Biden ameaçou com pesadas sanções, e Putin respondeu que condicionava a ação a um recuo nas intenções da Otan, a aliança militar ocidental, de arrastar para seu lado a Ucrânia. Ocorre que desde o término da União Soviética, a maior parte dos países que orbitavam em torno de Moscou passou a se associar ao Ocidente, através da União Europeia ou da Otan. E Putin gritou “basta” quando a Ucrânia, principal aliada dos tempos soviéticos, demonstrou a mesma intenção. O russo mostrou que não estava para brincadeira ao retomar da Ucrânia a província da Crimeia. Então, jogo esclarecido.

Com Jinping veio o boicote aos jogos de inverno, em nome da perseguição que o regime chinês desenvolve à minoria muçulmana uigure no Oeste do país, além de outras violações aos direitos humanos como a perseguição a dissidentes políticos e a mão de ferro estabelecida sobre Hong Kong. É um boicote parcial, porque os atletas irão participar das competições, só não irá nenhuma autoridade norte-americana. O porta-voz do governo chinês procurou desqualificar a decisão dizendo que nenhuma autoridade dos EUA fora convidada mesmo para o evento. Mas é mais uma cutucada que Biden dá em Jinping em meio à guerra econômica que os dois países vêm travando.

Na extensão dessas disputas, Biden deixou Putin e Jinping de fora da conferência sobre democracia que ele promoveu nestas quinta e sexta-feira. Foram convidados dirigentes de mais de 100 países, inclusive o brasileiro Jair Bolsonaro. Foi um cenário para o presidente norte-americano ratificar ao mundo sua defesa da democracia e mostrar que os seus dois maiores oponentes violam esse sistema. No discurso de abertura do encontro, Biden citou retrocessos no ranking da liberdade política global apontado pela Freedom House e afirmou que os compromissos com a democracia precisam ser constantemente renovados. Embora se saiba a importância da defesa da democracia, o fato é que os dois principais alvos de Biden, Putin e Jinping não estão muito preocupados com isto.

Por outro lado, o presidente norte-americano tem uma preocupação muito grande com algo que é incomum para os seus conterrâneos: a inflação, que fechou o ano fiscal em 31 de outubro a 6,2%. Os EUA não estão acostumados a esse nível de inflação, que é o dobro ou triplo das taxas habituais. E apesar de o presidente ter influência apenas parcial sobre a alta de preços, leva a maior parte da culpa. Claro que isto é um fenômeno que está acontecendo em todo o mundo e que é resultado da pandemia. O eleitor, no entanto, não quer saber disto. E quem se aproveita para fustigar Biden é Donald Trump, que pretende voltar ao governo. E não se pode esquecer que até pouco antes da eleição de 2020, Trump estava com a vitória assegurada de forma tranquila. Veio a pandemia que arrasou a economia e as pretensões do republicano. A continuar este cenário, Biden, que já anunciou que quer concorrer à reeleição, poderá provar do mesmo veneno.

 


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