O ataque de Israel ao Iraque deu uma sacudida no mundo árabe e muçulmano, fazendo surgir um acordo, que não teve muita divulgação, porém, tem grande impacto na região. Este acordo envolve a Arábia Saudita, a monarquia mais rica do Golfo Pérsico, mas que tem um pequeno exército, e o Paquistão, um país pobre, mas que tem o sexto maior exército do mundo, com 660 mil homens.
O ponto básico do acordo é uma cláusula semelhante ao artigo 5º do Tratado da Otan, o qual diz que se um país membro for atacado, todos os demais sairão em sua defesa. O envolvimento, por enquanto, é de apenas esses dois países, porém, as informações indicam que vários países do Golfo estariam dispostos a aderir.
BOMBA
Um detalhe significativo nesse acordo é que o Paquistão, além seu poderoso exército, possui a bomba atômica. Aliás, é única nação muçulmana a ter este artefato. Sem dúvida, um fator a mais de dissuasão. Partindo do princípio de que o importante é aliar-se com um poderoso. No entanto, tem outros fatores que precisam ser analisados. Como por exemplo, quem é ou quem são os inimigos do meu aliado. Neste caso o inimigo de meu aliado é mais poderoso do que ele. Trata-se da Índia. Outra potência nuclear e que tem o segundo maior exército do mundo.
As confrontações entre Índia e Paquistão se estendem desde 1948, quando deixaram de ser colônia britânica. Melhor dizendo, quando a Índia se independizou, tendo ao mesmo tempo eclodido a guerra entre hindus e muçulmanos, o que resultou, na ocasião, no surgimento de dois países, Índia e Paquistão, sendo este dividido em duas partes, Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental, que, mais tarde, viria a se transformar em Bangladesh.
ALIANÇA
Percebe-se que, apesar dos riscos decorrentes, os sauditas estão valorizando, em muito, esta aliança, por envolver uma potência bélica muçulmana. Numa aliança que, já se anuncia, terá a adesão de outras nações muçulmanas. E aí a pergunta que se impõe é, qual o inimigo?
Bem, esta aliança foi formalizada logo após o ataque de Israel ao Catar. Seria de supor que o inimigo do qual se prevenir seria Israel. Mas é lógico que as tratativas para o acordo já estavam sendo feitas há muito mais tempo. Muito antes da ação israelense. E Israel não é o inimigo. Pelo contrário, é visto como um parceiro para negócios. Tanto que países como Emirados Árabes Unidos, Barhein, Marrocos e Sudão firmaram recentemente acordo de paz com Tel Aviv. A Arábia Saudita está por firmar, mas condiciona à solução do problema dos palestinos.
INIMIGO
O inimigo é o Irã. Basta ver o que acontece no Iêmen. Duas facções estão em luta, uma apoiada militarmente pela Arábia Saudita e a outra pelo Irã. E é o Irã quem tem armado e dado suporte aos movimentos terroristas radicais da região, como Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica, etc., que não deixam de se constituir em ameaça não só para Israel, mas também para as monarquias do Golfo.
Por mediação da China, Arábia Saudita e Irã chegaram a entabular um acordo de paz. No entanto, as divergências entre ambos os regimes são profundas. Daí o interesse na aliança com um parceiro poderoso.
OTAN
O governo paquistanês esclareceu que sua dissuasão com as armas nucleares será ampliada aos sauditas com o acordo, mas outras nações islâmicas também já demonstraram interesse em se unir ao tratado, o que levanta a hipótese de formação de uma "Otan islâmica".
O ataque israelense em Doha também levou líderes árabes a se reunirem emergencialmente para discutir "respostas". Membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) - formado por Catar, Omã, Kuwait, Bahrein, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos - propuseram uma aliança militar regional mais abrangente, conforme comunicado na página oficial do grupo no último dia 18 de setembro.
CONFIANÇA
A avaliação entre os árabes era de que o ataque de Israel no Catar destruíra uma ilusão de confiança do bloco nos Estados Unidos. No entanto, o Catar foi o primeiro país da região a ganhar o guarda chuva de proteção americano. Indignado com o ataque desfechado por Israel, o presidente Donald Trump anunciou que, a partir de agora, qualquer ataque ao Catar seria considerado um ataque aos EUA. Afinal, é no território do Emirado que os norte-americanos possuem a sua maior base militar do Oriente Médio.
De qualquer forma, o que se está vendo são novas alianças naquela conflagrada região e, especialmente, uma união do mundo muçulmano.
